Universia

terça-feira, maio 29, 2007


À CONVERSA COM...

Temos feito um esforço imenso para mostrarmos, com a nossa acção política, que somos credíveis e temos competência


Carlos Marques é presidente da comissão politica concelhia do PSD da Mealhada desde Setembro de 2006. Um ano antes havia sido vereador na Câmara Municipal da Mealhada. No programa À conversa com..., do Rádio Clube da Pampilhosa e do Jornal da Mealhada, o autarca fez o balanço do seu mandato, avaliou o desempenho da vereação municipal e falou sobre os conflitos internos no seio dos social-democratas mealhadenses.


Está há oito meses na liderança da comissão politica concelhia do PSD da Mealhada. Que balanço faz do seu mandato?

Desde há muito tempo que ando envolvido na actividade política e partidária e há oito anos, sensivelmente, que integro os órgãos concelhios do Partido Social-Democrata. Antes de ser presidente já tinha desempenhado o cargo de vice-presidente. Seria, portanto, muito natural que assumisse a responsabilidade de me candidatar à liderança do partido e foi isso que fiz. Tive a consciência de que era necessário construir uma equipa forte, disponível, responsável, credível e que tivesse o mesmo entendimento que eu tenho sobre o exercício político no concelho. Tivemos também, eu e aqueles que comigo constituem essa equipa, a preocupação de construir um projecto e de oferecer aos militantes do partido um planeamento de trabalho. E foi isso que fizemos.



E que trabalho era esse?

Era preciso unir a militância do partido, dar uma existência tranquila aos militantes do PSD e é isso que temos feito. Temos tentado através de inciativas almejar essa união dentro da militância do PSD da Mealhada. Temos tido uma proximidade muito grande com a Juventude Social-Democrata, de que nos orgulhamos bastante, pois entendemos a juventude como um capital muito importante dentro do partido. A juventude é o futuro do nosso país, do nosso concelho e do nosso partido. Outra das nossas propostas era a de dar um acompanhamento muito próximo aos nossos autarcas. Mostrando uma disponibilidade total e uma proximidade muito grande aos que, nos momentos eleitorais, aceitaram ser nossos autarcas na Assembleia Municipal, nas assembleias e nas juntas de freguesia.



Conseguiram cumprir esse objectivo?

Conseguimos. Criámos um gabinete de acompanhamento autárquico no seguimento desse nosso pensamento. É um gabinete constituído por Leonor Lopes, Carlos Silva e Nelson Fernandes. Temos feito um trabalho de acompanhamento e de grande disponibilidade para os nossos autarcas porque entendemos que temos de lhes dar o mesmo que eles nos dão a nós.



Não foi pacífica a constituição de um conselho de opinião...

Prometemos e constituímos um órgão importante que é o conselho de opinião. Foi um atitude polémica mas, na minha perspectiva, é um órgão fundamental para este projecto que nós queremos estrear. Nós entendemos que os fundadores do partido deram muito pelo partido, houve muitos companheiros nossos que deram muito da sua vida e da sua actividade ao partido. Nós quisemos congregar todas essas sensibilidades num órgão consultivo, que estivesse disponível para criticar, para sugerir aos órgãos eleitos do partido o melhor caminho, para apontar soluções para este ou aquele problema pontual que exista, e não tivemos problema algum. Uma estrutura que congregasse fundadores, antigos autarcas, gente independente, o que é muito importante.



Que outras iniciativas têm sido promovidas?

O PSD tem ainda grande dificuldade na transmissão da sua mensagem. Muitas vezes o PSD promove iniciativas, sugere, propõe, critica, mas temos alguma dificuldade em chegar ao munícipe eleitor ou ao nosso militante. Nessa linha criámos também uma newsletter oficial do partido. Devemos ter orgulho em sermos inovadores e em fazer história no concelho da Mealhada. E, por isso, nos orgulhamos de ter criado dois núcleos residenciais de freguesia. Não me recordo de outro partido, no concelho, ter tido a ousadia ou a dinâmica de instituir os núcleos residenciais partidários. Nós entendemos que faria sentido.



E porquê?

O concelho da Mealhada não é um concelho demasiado extenso, mas tem oito freguesias. Sentíamos alguma dificuldade ao nível da dinâmica da acção partidária do PSD, em termos de comprometimento da militância nas freguesias. Constituímos estes núcleos residenciais a pensar nisso. É com orgulho que digo já estarem eleitos dois núcleos residenciais do PSD, um em Barcouço, presidido por Fernando Marques, e outro no Luso, liderado por Fátima Silva. Temos trabalhado imenso noutras freguesias e pensamos que, em breve prazo, poderá haver alguma novidade a esse nível.



O objectivo é ter um núcleo do PSD em cada uma das oito freguesias do concelho?

A intenção que está subjacente à criação dos núcleos tem a ver, precisamente, com aquilo que eu disse anteriormente. Mas não lhe posso dizer que vão existir oito porque, provavelmente, não irão.



Vamos tentar congregar todos à nossa volta, não vamos excluir ninguém. A quem se auto-exclui, não vamos, de modo algum, perder tempo a chamá-lo.



A sua presidência segue uma linha de continuidade deixada pela presidência de Gonçalo Breda Marques? Se sim, qual é a diferença entre a presidência actual e a de há oito anos?

Quando apresentei a minha candidatura à liderança do partido, muitas vezes me foi colocada essa questão, se iria dar continuidade à linha que tínhamos definido anteriormente. E a minha resposta é: Claro que sim. Assumo tudo aquilo que de bom foi feito, mesmo com alguns erros, próprios da nossa juventude, do nosso sangue na guelra, da nossa irreverência, erros por falta de experiência política. Fomos crescendo, fomos amadurecendo, fomos constituindo uma alternativa ao poder que está instituído no concelho, nomeadamente o poder socialista. O que posso dizer é que sempre estive comprometido neste projecto com Gonçalo Breda Marques, que, neste momento, é presidente da mesa do plenário. É um homem que está comprometido com este projecto e eu estou comprometido com ele, no sentido de um dia podermos ter algo de novo no concelho da Mealhada. E quando digo algo de novo, digo em termos a Câmara Municipal da Mealhada liderada pelo PSD. É isso que nos move.



Não nos falou ainda das diferenças...

É importante, e sempre lutámos por isso, dar ao município, ao concelho da Mealhada, uma imagem de credibilidade e de competência. Eu penso que a diferença será feita, na altura duma opção, por parte do eleitor, sustentada nessas duas máximas. Acho que na política tem de haver credibilidade e temos de mostrar competência. E é o que temos tentado fazer. Temos feito um esforço imenso para, com a nossa acção política, mostrar que somos credíveis e temos competência. Penso que isso será importante.



Recentemente, também, mudou a relação entre o PSD da Mealhada e as estruturas distritais.

Nos últimos sete ou oito anos o PSD da Mealhada esteve arredado dos órgãos distritais. Neste momento tem representatividade distrital. Hoje nós contamos, na comissão política distrital, com um companheiro nosso, Gonçalo Breda Maqrues. Não tivemos qualquer problema em indicá-lo, até pela sua experiência política, pela sua experiência acumulada, ao longo dos anos, nos cargos que desempenhou a nível distrital. É importante dizer que agora esse órgãos distritais nos consultam e é com orgulho que posso dizer que temos um companheiro da Mealhada, Carlos Silva, que integra o conselho estratégico distrital. O conselho de opinião distrital também contará com a participação de um militante do nosso concelho.



O PSD tem, desde Outubro de 2005, mais um vereador na Câmara Municipal da Mealhada. Tinha dois e agora tem três. O PSD optou por uma estratégia de combate político mais duro?

Nós no PSD temos características que nos fazem diferentes dos outros. Se temos sido severos e duros, eu penso que isso resulta da nossa grande convicção, daquilo que defendemos e da determinação que colocamos em cima da mesa, nomeadamente nas reuniões de Câmara. A relação que existe entre os três vereadores do PSD é de fusão: partilhamos as mesmas convicções, as mesmas ideias, há uma grande tranquilidade nas nossas funções políticas na Câmara Municipal. Penso que este trabalho de dar a conhecer que somos credíveis e somos competentes tem também sido feito na Câmara Municipal. Os vereadores do PSD são, neste momento, pessoas disponíveis. Correm o concelho, estão disponíveis para ouvir todo e qualquer munícipe, levam as questões que lhes são colocadas aos locais próprios e têm feito uma oposição crítica, obviamente, quando não concordam com as posições ou opções que são feitas pelos dirigentes socialistas. Mas somos também construtivos, tentamos propor, tentamos oferecer alternativa, muitas vezes tentamos marcar a agenda política concelhia com tudo aquilo que são preocupações, com sugestões que nos são feitas na rua. Quero ressalvar o trabalho de grupo que é feito pelos vereradores do PSD, um grande comprometimento entre os três, um grande trabalho, uma grande relação, para além da política, de amizade. Depois, todo o resto acaba por aparecer, naturalmente.


As propostas apresentadas pelo PSD têm sido (quase) todas rejeitadas. São propostas para levar a sério ou são apenas números políticos?

Tudo isto se insere naquela máxima de que em política não vale tudo. Não é possivel ganhar a qualquer preço e, nessa óptica, nós acreditamos que a credibilidade e a competência são imprescendíveis. Tudo aquilo que os vereadores apresentam na Câmara Municipal são propostas que nada têm a ver com qualquer espécie de show off. Nós propomos abrir as portas da Câmara Municipal ao munícipe que tiver vontade ou curiosidade de assistir às reuniões do executivo. Portanto, isto não é show off, é a nossas vontade de deixar transparecer para o exterior o que se passa nas reuniões de Câmara, e educar o munícipe naquilo que é a actividade política ao nível do executivo camarário. O cartão sénior foi uma proposta concreta, as bolsas de estudo, a revisão dos índices de localização do IMI, a questão dos impostos, a questão da brochura no Carnaval, a descentralização das próprias reuniões da Câmara Municipal. Em nada disto tirámos dividendos políticos, nada disto é show off. São tudo coisas muito concretas. Lembro-me de o presidente da Câmara ter dito que se o PSD fosse poder, tudo era de borla no concelho. Mas não é assim. Se o PSD um dia for poder, e temos essa convicção, tudo o que agora apresentamos, na oposição, teremos coragem para o executar quando chegar a altura própria. Tudo aquilo que nós propomos faz sentido e insere-se no nosso projecto político para o concelho.


Que balanço faz da prestação do executivo da Câmara Municipal o presidente da comissão política concelhia do PSD, e também vereador?

Nós sentimos que há uma marca de grande desgaste nos dirigentes socialistas actuais. Há envelhecimento, não há ambição, não há ideias novas, não há renovação.


Mas diz isso pela rejeição das propostas que foram apresentadas pelo PSD?

Eu não digo só pelos chumbos que as nossas propostas têm recebido. Eu refiro-me, por exemplo, ao Orçamento para 2007 e ao documento de prestação de contas de 2006. Ao analisarmos estes documentos vimos que há taxas de execução na ordem dos quarenta e muitos por cento, rondando os cinquenta, falando de receitas e despesas de capital. Vimos obras que são constantemente adiadas no concelho e não passam do papel. Isto são apenas exemplos. Poderia referir-lhe aqui imensos casos. É óbvio que as estruturas básicas existem na Mealhada, mas era importante dar o salto em termos de ambição, em termos de qualidade de vida, em termos de definirmos para o concelho um rumo de orientação estratégica. Há uns alcatroamentos, melhorias numa ou noutra estrada, mas não sentimos que haja um rumo de estratégia de orientação definido para o concelho. O concelho precisa disso. Há bem pouco um militante nosso dizia que estava cansado de ouvir falar mal do seu concelho e que amava o seu concelho. Os vereadores do PSD também têm este sentimento e, por isso, é que queremos muito mais e muito melhor tanto para o concelho como para as nossas gentes. E sentimos que não há, por parte dos actuais dirigentes socialistas, esta sensibilidade. Tudo em política tem o seu tempo. Faltam dois anos e meio para as eleições autárquicas e o PSD tem a estratégia alinhada no sentido de apresentar alternativas, mas entendemos que o devemos fazer numa fase posterior. Agora existe a necessidade de denunciar tudo aquilo que é mal feito por parte dos actuais dirigentes socialistas. E é o que temos vindo a fazer.


E o que é que está mal?

As nossas posições são conhecidas dos eleitores, do munícipe. Recentemente, neste programa, Filomena Pinheiro disse que, se tivesse ambição, não estaria na Câmara Municipal. Isto é sintoma de alguma coisa. Quando se diz que o exercício autárquico não tem que ser feito com ambição, com projectos, com ideias, eu não sei o hei-de dizer. O PSD, em meados de Março, fez uma visita ao bairro social do Canedo, quis denunciar uma situação que, para nós, é grave. A acção social é uma vertente do exercício dum mandato municipal, que nós reputamos como essencial. No dia da nossa visita, António Jorge Franco, vereador, apareceu com um funcionário, um técnico de serviço social, no bairro do Canedo, a prometer obras para o mês seguinte. Em Abril, as obras irão começar e tudo vai ser uma realidade no Bairro Social do Canedo, disse ele. Estamos a meio de Maio, o PSD fez há uns dias outra visita a esse bairro e, realmente, voltámos a denunciar esta situação. Não faz sentido um homem com as suas resposnabilidades políticas prometer e depois não cumprir. Nem sequer existe o fantasma das obras naquele lugar. Isto é, repito, sintomático. Aos microfones da rádio diz que nós não sabemos e se não sabemos deveríamos saber que as obras exigem um concurso público. Mas, francamente, quem promoteu foi o vereador Franco, não fomos nós. Ele disse que as obras arrancariam em Abril e não arrancaram. Chegando a altura, nós denunciamos, claramente, as situações.
A ignorância tem sido a acusação mais utilizada pelos vereadores do Partido Socialista em relação às críticas pelo PSD.
Acho que até lhes fica mal. Não concordo, de modo algum, com isso. Nós tentamos acompanhar os dossiês. Falo, por exemplo, do campo de golfe e da plataforma rodoferroviária da Pampilhosa. Em relação ao campo de golfe há aqui uma coisa que tem de ser desmistificada. O PSD nunca foi contra o campo de golfe. A população da Pampilhosa viu, de um momento para o outro, as suas terras ocupadas para a realização destas construções.
Filomena Pinheiro disse aqui que achava que o campo de golfe da Pampilhosa seria um investimento fundamental para o desenvolvimento turístico do concelho, nomeadamente, como apoio ao grande pólo que é o Luso. Qual é a sua opinião sobre isto?
Poderei, eventualmente, concordar ou não. Depende do desenvolvimento das coisas e de haver, ou não, o comprometimento de todas as forças políticas na análise e na discussão deste processo. Em 2005, quando tomámos posse dos cargos de vereadores, na primeira reunião de Câmara dei ao presidente da edilidade a sugestão de se marcar uma reunião com os proprietários dos terrenos destinados ao campo de golfe, com todo o executivo, para discutirmos e desmistificarmos algumas coisas relativas a esse projecto. Nunca foi feita reunião nenhuma. Eu soube que a própria direcção da associação de proprietários se dirigiu ao presidente da Câmara, com idêntica sugestão. A Câmara Municipal peca por não envolver todos os actores neste processo: Câmara, proprietários, promotor do empreendimento, etc. Se procedesse de outra maneira não haveria tanta desinformação nem tanta informação contraditória, tanto equívoco, o que, realmente, faz com que saibamos pouco deste projecto, que é uma obra que está prometida há vários anos mas que não existe. A Câmara falha, a esse nível, guardando tudo para si. E isto é também um pouco a característica dos dirigentes socialistas.
Se fosse eleito presidente da Câmara Municipal da Mealhada o processo do campo de golfe iria ter continuidade ou parava?
Certamente que iria continuar. É irreversível. Agora há que acautelar o interesse dos particulares. Não os desprezar.
Existe dissonância entre as oposições do PSD na Câmara Municipal e na Assembleia Municipal?
O PSD é, pelo próprio nome, um partido democrático, pluralista, onde toda a gente pode apresentar a sua opinião, onde toda a gente tem o seu espaço próprio, para manifestar a sua posição. Não há dissonância nenhuma. Falei há pouco no acompanhamento do gabinete autárquico e na grande necessidade que os dirigentes têm de se disponibilizarem para apoiar os nossos autarcas. Na Assembleia Municipal as coisas passam-se de igual forma. Existem reuniões preparatórias da Assembleia Municipal, onde nós tentamos concertar as nossas decisões, porque não somos um grupo de escuteiros, somos um partido político e as nossas posições são concertadas para poderem sair sob um ponto de vista unitário. O caso dos presidentes de Junta de Freguesia é diferente. Têm uma forma muito particular de ver a realidade concelhia, acho que olham muito mais para as suas freguesias e isto é bastante positivo. O partido olha mais para o concelho de forma global. É natural que, face a uma ou outra posição, haja um presidente de uma Junta de Freguesia que tenha uma posição diferente.
Mas sobre o Hospital da Misericórdia, por exemplo, a posição do PSD na Assembleia Municipal foi diferente da posição na Câmara.
Não vou fazer aqui a resenha histórica que foi a nossa posição nesta história ou daquilo que foi esta história. Nós entendemos que a situação do Hospital da Santa Casa da Misericórdia é uma questão cara, é uma grave situação que se vive no concelho e eu não queria ir por aí. Quando esta questão foi colocada em sede de reunião de Câmara, o PSD demonstrou que não está na política concelhia ao serviço do protagonismo. Face a esta questão tomámos uma posição firme, coerente com aquilo que é nosso pensamento relativamente à situação.
Na última Assembleia Municipal ficou claro que, se tivesse sido a Assembleia a decidir, tanto do lado do PS como do PSD a posição seria diferente.
Não. Aquilo que António Miguel Ferreira, porta-voz do PSD na Assembleia Municipal, fez e disse, veio ao encontro daquilo que nós fizemos. Quando nós, na Câmara Municipal, votámos contra o apoio da Câmara Municipal, tivemos sempre subjacente o interesse do munícipe. O munícipe, caso a Câmara optasse por subsidiar e "tapar" o buraco" que existe na Santa Casa da Misericórdia, pagaria três vezes.
Mas a posição apresentada por António Miguel Ferreira era outra. Era a de que a Câmara devia apoiar.
Mas essa também é a nossa posição. António Miguel Ferreira disse que a Câmara devia ponderar outro tipo de atitude face às dificuldades que existem no Hospital da Santa Casa da Misericórdia. Na nossa declaração de princípios, na Câmara Municipal, foi isso que fizemos. Nós preparámos essas intervenções todas, reunimos previamente para preparar estas posições. A nossa posição é a dele e ele fez questão de vincar, na própria Assembleia Municipal, que não estava ali a colocar-se à margem da posição dos vereadores. O que António Miguel Ferreira disse foi o que nós dissemos na nossa declaração de princípios.
Como é que tem encarado as críticas de destacados militantes ao seu trabalho?
Todo e qualquer militante é fundamental para ajudar os órgãos eleitos a construir uma alternativa credível a este poder socialista. Todo e qualquer militante conta para esse percurso e nós contamos com todos, não excluímos ninguém. Há, obviamente, um ou outro militante que, em determinada altura, adopta uma ou outra posição que nós podemos criticar. Eu disse no início desta entrevista que gosto do meu partido, que tenho a resposanbilidade de liderar com alguma tranquilidade. Não quero, perdoem-me a expressão, um bando de cordeirinhos alinhados com aquilo que nós pensamos. Nós queremos divergências de opiniões, queremos pessoas que sugiram, queremos pessoas que apontem caminhos diferentes. Contamos com isso tudo. Agora com o que não podemos contar é que um ou outro militante nos crie dificuldades a esse nível. Ainda há pouco tempo disse a César Carvalheira que considero que ele tem assumido uma postura que não corresponde à sua responsabilidade, quanto mais não seja pelo tempo de militância que tem ou pelo historial que tem no PSD, no concelho da Mealhada. Quando eu fui eleito, quando a minha lista, a minha comissão política foi eleita, surgiu um artigo no Jornal de Noticias a dizer: "Arguido candidata-se ao PSD da Mealhada". Eu não estou constituído arguido por desvio de verbas ou tráfico de influências. Estou apenas arguido num processo e na altura era segredo de justiça. Este artigo dá a entender que um criminoso se candidatou ao PSD da Mealhada. É sintomático. César Carvalheira foi convidado para integrar um órgão e ele adoptou a postura que adoptou, dizendo que não era do PSD nacional, não era do PSD distrital, não era do PSD local. Eu digo uma coisa parafraseando alguém que disse um dia: Para ganharmos uma geurra, se tivermos que perder alguns pelo caminho nós vamos perdê-los. Não vamos promover essa perda. Nunca. Vamos tentar congregar todos à nossa volta, não vamos excluir ninguém., A quem se auto-exclui, não vamos, de modo algum, perder tempo a chamá-lo.
Estamos a cerca de dois anos das eleições autárquicas. Entende que o presidente de uma comissão política concelhia deve ser o candidato natural à presidência da Câmara Municipal?
Eu entendo que o princípio que norteia a nossa liderança, neste momento, e que norteia a comissão política é o seguinte: Estamos muito mais interessados em projectos, em ideias, em propostas.
Mas vai ter que apresentar um nome.
Neste momento estamos a construir um projecto alternativo. Com toda a franqueza e sinceridade, digo que, a seu tempo, a questão dos nomes colocar-se-à em cima da mesa.
E daqui a quanto tempo?
Não sei. Eu acho que o PSD, e isto é uma opinião pessoal, tem que ter algum tempo para colocar os nomes em cima da mesa. Os núcleos, em termos de freguesia, vão facilitar um pouco o nosso trabalho.
Os militantes vão ter que escolher entre Gonçalo Breda Marques e Carlos Marques?
Eu acho que os militantes devem escolher entre o PS e PSD. E devem escolher o PSD porque é jovem, tem grandes convicções, tem gente muito determinada, trabalha diariamente em prol do concelho. E o PSD tem, como sempre teve ao longo destes oito anos, uma identidade própria, um projecto que é visível, uma actividade que não se esconde atrás de qualquer receio de dizer ou de criticar. Eu penso que a opção vai ser dos munícipes, não entre Gonçalo Breda Marques ou Carlos Marques ou João Pires ou o comandante José Felgueiras. Eu acho que a opção dos eleitores vai ser entre o PS e o PSD.
(in Jornal da Mealhada, 23 de Maio de 2007)

sexta-feira, maio 18, 2007

Escola Secundária da Mealhada não vai à final das Escolíadas'07

Na sexta-feira, dia 11, realizou-se a última sessão das Escolíadas 2007, na Quinta dos Três Pinheiros, em Sernadelo. Nesta sessão participaram a Escola Secundária da Mealhada (ESM) e a Escola Secundária José Estevão, de Aveiro. "Estavam previstas três escolas para hoje mas a Secundária de Montemor-o-Velho teve um problema e não pode vir", anunciou Claúdio Pires.
As escolas foram avaliadas nas provas de pintura, teatro, dança/música, cultura geral e claque por um júri constituído pelas professoras Maria Manuela Almeida, Manuela Monteiro, Ana Lúzia e Nobélia Faria.
"O sorriso duma criança vale tudo" foi o tema que a Escola Secundária da Mealhada escolheu para desenvolver durante a sua prestação. Numa chamada de atenção para o traje que envergava, a aluna Alexandra, apresentadora da escola, disse: "Por isso vim vestida de boneca de trapos, para simbolizar todos os adereços que as bonecas trazem".
"De pequenino é que se torce o pepino" é o título da peça de teatro que a escola representou. A autora é Marta Pires, aluna e elemento da organização das Escolíadas. Acerca desta representação o porta-voz do júri afirmou: "O sorriso duma criança vale mesmo tudo! A prova estava muito bem preparada, o cenário muito adequado e foi interessante a interacção com a claque. Parabéns por este momento". Para a prova a classificação foi de cinquenta e um pontos.
Seguiu-se a prova de claque, que obteve cinquenta e nove pontos. A prova de claque "tem como objectivo 'mimar' e completar a história contada na peça de teatro que já foi representada", explicou Alexandra.
Em música/dança, a música original "É tão bom ser criança" foi trabalhada e explorada com assinalável empenho pelos alunos. Completaram a prova com uma coreografia. "Assistimos a uma bela apresentação cénica. Ouvimos uma voz calma e que nos transmitiu paz", elogiou a porta-voz do júri. Cinquenta e cinco pontos foi a pontuação alcançada.
A prova de pintura, realizada pela aluna Tânia e pela docente Isabel, obteve trinta e dois pontos. A professora explicou: "Este quadro está de acordo com o tema 'A criança' e simboliza o meio ambiente que permite a sua educação".
A Escola Secundária de José Estevão, de Aveiro, apresentou-se com o tema "O sonho". E, ao longo da noite, segundo explicou o aluno João, apresentador da escola, procurou retratar "algumas expectativas que se tem quando se sonha".
Na prova de teatro, os intervenientes abordaram algumas questões: "A partir do momento em que se tem um sonho ele deixa de existir? Os sonhos são mesmo verdades?". No final, dirigindo-se ao público, perguntaram: "Sabiam que, enquanto tudo é um sonho, tudo é possível?", "António Gedeão já nos dizia que o 'sonho comanda a vida' e a verdade é que a ninguém está vedada a capacidade de sonhar", comentou um dos elementos do júri. Cinquenta e cinco pontos foi quanto a escola obteve nesta prova.
A prova de pintura foi realizada pela aluna Margarida e pelo professor Luís Delgado. O professor, elogiando o trabalho que a sua aluna realizou e na elaboração do qual colaborou, disse: "Neste quadro a Margarida, com o seu talento, representou muito bem o sonho. A criança é o elemento fundamental desta obra porque representa o sonho". A classificação da prova foi de vinte e nove pontos.
Na prova de música/dança o apresentador salientou: "A música não tem muita letra, mas tem vários estilos musicais. Tem um jogo entre a música e a dança". O júri elogiou o trabalho apresentado e atribuiu-lhe cinquenta e nove pontos. Tendo excedido, porém, o tempo proposto pelo regulamento das Escolíadas, foi-lhe subtraído um ponto. A classificação, por conseguinte, cifrou-se nos cinquenta e oito pontos.
Na prova de claque, os alunos da escola dividiram-se: as meninas, vestidas de branco, simbolizavam o sonho e os meninos, vestidos de preto, simbolizavam o pesadelo. A prova foi classificada com cinquenta e dois pontos. No final da sessão, Claúdio Pires, criador das Escolíadas, disse: "No início desta edição das Escolíadas, com as transformações governamentais na Educação, estava com medo de que as coisas não corressem bem. Falámos com as escolas e eu fiquei receoso de que, ao saberem disto, não se preocupassem muito com a qualidade das provas. Mas as escolas empenharam-se ainda mais, os professores ajudaram mais e os conselhos executivos também. Estou muito satisfeito".

O porta-voz do júri realçou também o trabalho das escolas e, dirigindo-se aos alunos, declarou: "Em cada sessão é-nos mostrada a verdadeira face da arte, a vossa arte. Sabemos que não é fácil e que tiveram que ultrapassar muitos obstáculos nas aulas, nos testes, etc. Mas a escola também são estes momentos. Parabéns e muito obrigada às duas escolas".
No momento das despedidas Alexandra, a apresentadora da ESM, disse: "Agradeço a toda a gente que está aqui presente e a todas as pessoas que nos ajudaram a que isto fosse possível. Tivemos imensos professores a colaborar. A equipa e a claque estão de parabéns por este trabalho".
João, o apresentador da escola de Aveiro, fez também agradecimentos: "Quero agradecer ao conselho executivo da nossa escola, à Câmara Municipal de Aveiro e aos professores também. Gostámos muito de partilhar este momento com a Escola Secundária da Mealhada".
Na contagem final dos pontos verificou-se um empate nas classificações das escolas concorrentes. Ambas somaram 203 pontos e, desta forma, não atingiram pontuação suficiente para irem à final.
No próximo dia 25, sexta-feira, irá realizar-se a final das Escolíadas 2007 com a participação de três escolas: Colégio de Albergaria-a-Velha, com 205 pontos, Escola Secundária Dom Dinis, com 204 pontos, e a Escola Secundária da Gafanha da Nazaré, também com 204 pontos.
No dia 6 de Junho terá lugar, no Cine-Teatro Messias, a gala de prémios, com a apresentação das provas mais pontuadas das seis sessões.






Quais as expectativas para esta noite?

ANA GRAÇA, 10º ANO

"Eu acho que estamos a defender o título do ano passado e vamos dar tudo por tudo para isso acontecer."

MIGUEL OLIVEIRA, 10º ANO

"Tenho poucas expectativas mas com esperança. Estamos melhores que o ano passado, mas em relação às outras escolas não sei."

TIAGO BAPTISTA, 12º ANO


"Trabalhamos para fazer o nosso melhor. Até porque temos que renovar o título".

SORAIA SIMÕES, 12º ANO

"As expectativas são altas porque trabalhámos para isso. Os últimos ensaios correram bem."

Mónica Sofia Lopes

Ricardo Almeida (fotografias)

(in Jornal da Mealhada, 16 de Maio de 2007)

quarta-feira, maio 16, 2007

Escola Secundária
preocupa-se com a
alimentação dos alunos

De 21 a 25 de Maio vai decorrer na Escola Secundária da Mealhada (ESM) a Semana da Alimentação Saudável. "Vamos servir sandes saudáveis e, possivelmente, sopa, mas o que vamos ter em abundância vai ser a fruta. Queremos sensibilizar os alunos a comerem fruta", afirmou Graça Pereira, professora da ESM e uma das responsáveis pelo Gabinete de Apoio ao Jovem (GAJ).
No dia 25, sexta-feira, pelas 21h30, a ESM vai estar de portas abertas aos pais e encarregados de educação com uma palestra intitulada "E o meu filho alimenta-se bem?". Esta actividade vai ter a presença de João Breda, nutricionista, e Odete Oliveira, médica, do Centro de Saúde da Mealhada.
"O GAJ preocupa-se muito com a questão da alimentação pois pode interferir na vida dos alunos e, por consequência, no seu aproveitamento escolar", disse Graça Faria, professora da ESM e também responsável pelo GAJ.
Nesta Semana da Alimentação os educandos vão participar na organização das actividades. "Os alunos vão colaborar com cartazes e vão ajudar na produção de textos, uma vez que somos duas professoras de Português e, portanto, contextualiza-se nas nossas aulas", concluiu Graça Pereira.
Durante esta semana, os alunos vão poder consultar os resultados dum rastreio, realizado no período anterior, em que foram feitas as medições da tensão arterial e do índice da massa corporal (IMC), ou seja, a relação entre peso e altura.

Mónica Sofia Lopes
(in Jornal da Mealhada, 16 de Maio de 2007)

segunda-feira, maio 14, 2007


À CONVERSA COM... MARCANTÓNIO DEL CARLO

A CULTURA TEM QUE SER EXPERIMENTADA, VIVIDA PELA COMUNIDADE. SE NÃO FOR VIVIDA, NÃO É CULTURA.

O conhecido actor Marcantónio del Carlo foi o ideólogo, produtor e encenador do espectáculo "Quem matou Romeu e Julieta?" que, durante três semanas, teve lugar no cinetetatro Messias, na Mealhada. No programa À conversa com..., do Rádio Clube da Pampilhosa e do Jornal da Mealhada, o actor falou do projecto que desenvolveu com três escolas da região e um instituto universitário de Coimbra, e da escolha da Mealhada para encenar o resultado do projecto desenvolvido ao longo de dois anos com mais de cem alunos. O espectáculo tem hoje, às 14h 30m, a sua última representação.

Esteve na Mealhada, desde dia 24 de Abril, uma adaptação sua de "Romeu e Julieta", de Shakespeare, com a participação de cerca de cem crianças. É um projecto pouco comum.
É verdade. Não são crianças, são adolescentes. A peça é a cereja em cima do bolo, dado que isto é um projecto que tem dois anos, envolveu três escolas, Escola de Lordemão, Coimbra, Instituto Pedro Hispano, da Granja do Ulmeiro, e a Escola Pedro Teixeira, de Cantanhede, e ainda a ARCA, um instituto universitário de Coimbra. Propôs-se a toda esta comunidade escolar trabalhar um clássico teatral. Trabalhar com esta ideia: em vez de levar as pessoas ao teatro, o que quisemos fazer foi levar o teatro às pessoas, ou seja, envolver as pessoas na criação de um espectáculo.

E como foi feito esse trabalho?
Dividiu-se em três áreas: cenografia, representação e música. Cada escola foi desenvolvendo o seu trabalho. O que vemos no palco, juntamente com seis actores profissionais, são perto de cem pessoas. É um projecto ambicioso, porque é inovador em Portugal. É a primeira vez que uma comunidade tão vasta participa, juntamente com profissionais, na criação de um objecto teatral. Isto, para mim, é muito gratificante. Eu defendo, cada vez mais, a intervenção das artes na comunidade, nomeadamente da dança, do teatro e da música, ou seja, não fazermos o que normalmente se faz, que é o seguinte: constrói-se um espectáculo, realiza-se e depois ficamos à espera que as pessoas o venham ver. O que pretendemos é que a comunidade, ao longo destes dois anos em que esteve a trabalhar neste projecto, se veja claramente envolvida nele. Todos são participantes, desde o pai, que acompanhou o filho nos ensaios, até aos próprios professores que foram envolvidos e outros elementos da comunidade que acabam por estar envolvidos.

Houve forte adesão dos jovens?
A adesão foi muito positiva. É muito curioso porque eles acabaram por ser a grande mais valia deste projecto. Por exemplo, nós temos uma enorme máquina, com altura e largura signficativas, que, consoante as situações teatrais, se divide em seis cenários diferentes. Foi construído na ARCA, por alunos universitários. A própria divulgação do espectáculo, em termos de cartazes, flyers, etc., foi desenvolvida, com trabalhos diversos e de qualidade, por esses alunos. Alguns dos actores que entram na representação também são alunos. É muito satisfatório ver esta simbiose entre profissionais e não-profissionais.

Este projecto já nasce com o objectivo de fazer um espectáculo, ou não?
Não, não. O objectivo era que, durante dois anos, se abordasse pedagogicamente um clássico. Surgiu então a hipótese deste final um espectáculo profissional, numa casa de espectáculos dotada das condições necessárias, como é o caso do cineteatro Messias, da Mealhada.

Mas representado de modo diferente...
O nosso espectáculo não é o clássico "Romeu e Julieta". Por exemplo, o nosso baile de Romeu e Julieta é uma rave. As lutas são como se fossem jogos de computador. É uma linguagem aproximada daquilo que acontece com frequência hoje em dia.

A história, todavia, é a de Shakespeare...
A história é, efectivamente, a mesma. E continua a ser uma história bastante pertinente. Porque os dramas sociais estão patentes nma sociedade actual. Basta ler as notícias. Continua haver, nos ghettos, os Capuletos e os Montéquios. Baste ver as tragédias que se verificam todos os domingos, no futebol, entre benfiquistas, sportinguistas e portistas, por exemplo, que rivalizam por causa de uma cor. Nesta nossa Verona, acontece a mesma coisa: há duas cores, há duas famílias que lutam, estupidamente, por uma cor. No meio há dois seres, que são o Romeu e Julieta, que acham tudo isto uma parvoíce e que se apaixonam. A história é, exactamente, a mesma. Nós contamo-la de uma forma pedagógica. Há um guião. Há um guião dentro da peça, que é o meu, ou seja, sistematicamente, paramos a peça para explicar o que está acontecer. Explicar de uma forma divertida. Há muito humor no espectáculo, provocado pela própria peça.

Como é que Marcantónio del Carlo entrou nestas escolas?
Eu vim, há cerca de três anos, ministrar um curso de teatro nesta zona do País. Nesse curso ficou demonstrada, da minha parte e da parte dos formandos, uma vontade de fazer um projecto em comum.

E os formandos eram destas escolas?
Dos alunos que tive no tal curso que dei, alguns eram professores e também havia alunos, claro, que vinham destas três escolas. Portanto, consequentemente, foram as escolas que se associaram ao projecto. Mas isto aconteceu por acaso.

E como se desenvolveu este projecto dentro das escolas?
Dentro das escolas foi tudo muito simples. Eu pensei que ia ser mais complicado. Todos os alunos que quiseram, inscreveram-se em uma das três áreas: cenografia, música e representação. Fizemos depois uma pré-selecção, muito em função não só da qualidade dos alunos mas também da sua disponibilidade.

Da disponibilidade dos alunos?
Foi muito complicado em termos logísticos ter estes cem alunos, uma vez por semana, a trabalharem, exclusivamente, nisto. As três escolas tiveram, que reformular as suas actividades curriculares.

E como foi trabalhar com tanta gente e gente tão jovem?
Foi muito engraçado! É um sugestão que devia ser aproveitada, a nível nacional. Eu já tinha desenvolvido um projecto semelhante com António Fonseca, um dos actores que entra neste espectáculo. Uma produção mais ou menos como esta, noutro contexto, com outra peça. Mas aí eu descobri uma coisa muito interessante: para muita gente o teatro, como a arte em geral, é tabu, é chato e cinzento. Curiosamente, há cada vez mais gente que quer experimentar teatro. Neste projecto de agora, não podíamos ter mais de cem pessoas em palco e tivemos muito mais do que cem inscrições.

Neste caso colocou muita gente a experimentar teatro.
Acho que aconteceu aquilo que pretendia. Neste momento, as três escolas, mais toda a comunidade residente não só por este espectáculo específico, mas também pelo teatro em geral. Porque, durante dois anos, todos, directa ou indirectamente, estiveram a trabalhar para ele. Não vale a pena irmos para as escolas e dizer: "Bom, vamos ler livros, vamos fazer música e fazer teatro, porque é bom e é cultura". Isto é mentira. Porque a cultura tem que ser experimentada, vivida pela comunidade. Se não for vivida, não se pode chamar cultura.

Para viver a cultura será preciso, também, passar por estas casas de espectáculo?
Eu acho que o teatro-escola pode ser feito em casa, pelos próprios pais. Acho que o teatro não se cinge a um casa de espectáculos. Por exemplo, nós só tivemos uma semana de adaptação ao palco. Em dois anos, trabalhámos nas escolas, numa sala de aula. Os próprios actores profissionais estiveram dois meses a desenvolver a peça, na ARCA. A propósito disso aconteceu uma coisa muita curiosa. A partir do momento que nós tivemos o cenário pronto, que é muito grande, nós tínhamos ensaios lá, durante as aulas, e a comunidade escolar da ARCA via os ensaios e havia um respeito enorme. Nós não tínhamos que dizer: "Por favor, não façam barulho que estamos a ensaiar". Eles já o sabiam porque a máquina foi lá construída. Isto é muito mais divertido assim, quando se envolve uma comunidade, e é também mais eficaz.

Quem foi ao cinetetaro Messias ver "Quem matou Romeu e Julieta" teve oportunidade de ver também uma exposição sobre o projecto.
Uma exposição enorme, interactiva, em que os espectadores, antes de entrarem para a sala, puderam perceber todo o processo que foi criado. Viram maquetas, cenários, hipóteses de cartazes. Isto é muito interessante, eficaz, e faz com que a comunidade esteja connosco. Ou seja, de repente, os actores não são aquelas pessoas estranhas, como eu, que aparecem nas televisões. São pessoas como outras quaisquer, só que fazem qualquer coisa de mágico. A exposição é como se fosse o Luís de Matos a explixar os truques, ou seja, como é que tira o coelho da cartola.

O projecto envolveu escolas de Lordemão, Cantanhede, Granja do Ulmeiro. Como é que veio parar à Mealhada?
Nós viemos parar à Mealhada porque, quando se fez a proposta do projecto, era preciso encontrar um palco que tivesse dimensão para instalarmos o cenário, que é enorme. Houve depois a necessidade de termos uma casa de espectáculos que fosse nobre e que, de alguma maneira, fosse central para as várias comunidades. Um sítio acessível, por um lado, e que, por outro lado, tivesse interesse.

Um local que dignificasse a própria peça?
Não só que dignificasse mas onde as pessoas se vissem reconhecidas naquele teatro. Passámos por várias propostas, uma delas foi o Gil Vicente, em Coimbra. Finalmente, surgiu a hipótese desta sala. Houve uma abertura fantástica da parte da Câmara Municipal da Mealhada, que se interessou muito pelo projecto. Tanto a drª Benvinda Rolo como o presidente da Câmara logo que leram o projecto disseram: "Isto interessa-nos". Uma das coisas que eles acharam interessante, pelo que me deram a conhecer, foi a intervenção da comunidade. Ou seja, perceberam, tal como as três escolas já tinham percebido há dois anos, que, depois do espectáculo acabar, ficará uma semente. Isto pode ser um embrião para outras coisas que nós queiramos fazer.

O cineteatro Messias adaptou-se facilmente ao que pretendia?
Há pouco estava a falar com um dos funcionários aqui do cineteatro e lembrei-me de que os problemas que nos foram surgindo seriam muito dificeis de contornar, mesmo num teatro mais institucionalizado. Aqui tudo é fácil, porque há um à-vontade muito grande e se, de repente, houver um problema técnico, resolve-se. Alguém tem o tal cabo que falta ou vai-se a casa de uma pessoa buscá-lo. Se calhar, numa outra zona, eram precisos cinco ofícios assinados por cinco pessoas diferentes. A crise do teatro reside no facto de estar na mão de pessoas que não têm nada a ver com arte. Temos demasiada burocracia e pouca arte! Por exemplo, a grande maioria dos teatros oficiais, institucionalizados, estão na mão de pessoas que não percebem nada de teatro e que não têm nada a ver com teatro. Aqui na Mealhada não. A equipa que está aqui, é do teatro, sabe o que é que está a fazer, tem objectivos.

Vai representar esta peça noutros palcos?
Seria interessante fazer um merchandising deste projecto, porque o cenário está montado, os seis actores profissionais são os mesmos, e era interessante ir representar a outros sítios. O interessante seria, durante seis meses, ir ao Porto, a Lisboa, ou ao Alentejo, com estes actores, com o cenário pronto, desenvolver todo o trabalho de base que foi feito, mas com outras escolas.

Será possivel uma tournée?
Temos quarenta percussionistas, seis músicos, dezanove actores, tudo de escolas, para além dos seis actores profissionais. É muito difícil levar esta gente toda em tournée. Seria muito interessante existirem outros sítios, que dissessem que estavam interessados numa espécie de merchandising da peça.

E afinal quem é que matou Romeu e Julieta?
Isso é o que é curioso nesta peça e foi o ponto de partida do meu texto. Quem é que matou Romeu e Julieta? Os próprios espectadores não vão estar passivos, têm uma interacção com os actores, com aquilo que está acontecer em palco, e a proposta é, exactamente, responderem à pergunta: Quem matou o sonho? É uma das frases que escrevi no programa.

O sonho ou Romeu e Julieta?
Nós tivemos um sonho de nos lançarmos neste projecto e tivemos a sorte de o viver, de o "curtir". Por que é que não existem mais sonhos destes no País? Há aqui tanta gente nova, que tem qualidades fabulosas! Vou dar um exemplo: Na minha ideia inicial julguei que iria ter de recorrer a muita música gravada. Não sabia o que os músicos seriam capazes de tocar. No primeiro ensaio, fui ver os músicos, só lhes tinha dado três ou quatro ideias, e vi logo que não iria precisar de meter música gravada nenhuma porque eles eram mesmo muito bons. Apresentámos um espectáculo com músicas originais. A canção "Romeu e Julieta", por exemplo, é da autoria de um aluno que tem catorze anos. E toda a música é tocada ao vivo.

Romeu e Julieta suicidam-se. Aliás, como na peça original. A pergunta que dá título ao espectáculo procura os culpados?
"Aquilo que vocês viram, este drama, acontece porquê?". Esta é a pergunta que nós fazemos perante este drama juvenil, sem grandes pretensões, porque o público é que é o grande juiz de um espectáculo. Isto é muito actual e oportuno. A peça termina, exactamente, com esta pergunta. Acaba com o príncipe de Verona a perguntar aos espectadores: "De vós (Capuletos e Montéquios) quem é que matou?". E a pergunta é dirigida também a nós, com os nossos ódios racistas, do futebol, disto e daquilo, aos ghettos, com armas à solta, com miudagem que anda à pancada por tudo e por nada. Portanto, a peça tem muito de actual. Daí a escolha deste clássico e não de outra peça de William Shakespeare.


Espera quatrocentas respostas diferentes (a lotação do cineteatro Messias) em cada espectáculo?

Eu espero que haja mais. Não é só esperar que venha muito público, que espero obviamente. Espero que esta peça levante questões. Porque a peça tem a duração de uma hora e meia e é muito divertida, tem muito humor, tem dança, tem coreografias, tem lutas, tem imensas coisas. Tem todos os ingredientes para um bom espectáculo, para divertir as pessoas. Mas a peça também quer, de alguma maneira, apontar o dedo às pessoas: "O que é que você pensa disto? E o que é que em casa faz com isto?".


É uma peça que não tranquiliza?

É uma peça que inquieta! Por que é que aqueles dois jovens se matam? E, ainda por cima, por causa de um equívoco? Esse equívoco é causado, muito claramente, pela cidade de Verona, pela comunidade.


Ao fazer esta peça fora de Lisboa ou do Porto, ao vir fazer algo inédito aqui, está a dar alguma pedrada no charco?

Eu sou um criador, não me preocupo com essas questões. Acredito, não sou ingénuo, e sei que o teatro tem sempre um cariz político e de intervenção. Agora não me preocupo com isso. Sei que qualquer peça que eu monte ou que represente como actor vai, inevitavelmente, intervir nas pessoas que a estão a ver. Não é essa a minha preocupação e não deve ser a preocuapação de um criador. Acho que nos centros fora do Porto e de Lisboa é mais difícil fazer espectáculos. Mas a prova de que não é impossivel é que nós o fizemos aqui e não o estamos a fazer em Lisboa. Se calhar a metrópole foi, até este momento, a Mealhada. Se calhar em Lisboa, um projecto com esta dimensão não teria sido tão fácil de organizar.


(in Jornal da Mealhada, 9 de Maio de 2007)

sexta-feira, maio 11, 2007


CASAL COMBA


Entregues diplomas

de "Novas Oportunidades"


Na tarde do passado sábado, foram entregues, na sede do Rancho Folclórico de São João, em Casal Comba, os diplomas de certificação de competências no âmbito do programa governamental "Novas Oportunidades". Funciona em Casal Comba um destacamento do Centro de Novas Oportunidades da Escola Secundária Avelar Brotero, de Coimbra, frequentado por mais de cinquenta formandos que pretendem, assim, adquirir competências para obter equivalência ao quarto, sexto ou nono ano de escolaridade.

A sessão de entrega dos diplomas começou com a intervenção dos formandos, maioritariamnete de Casal Comba, que fizeram um comentário acerca do curso e dos conhecimentos que nele obtiveram. Seguiu-se uma prova oral, perante cinco docentes do referido centro. Depois da avaliação e classificação seguiu-se a entrega dos diplomas.

Gaspar Dantas, director do Centro de Novas Oportunidades da Escola Avelar de Brotero, fez a chamada dos formandos e os diplomas foram entregues pelos docentes e por Filomena Pinheiro, vice-presidente da Câmara Municipal da Mealhada, que presidiu à sessão.

Ana Cristina Lopes Feio, presidente do conselho executivo da Escola Secundária Avelar de Brotero, afirmou: "Temos em Coimbra cento e quatro estagiários destes cursos tecnológicos. O que é muito bom! Hoje, aprendi muito neste local".

Seguiu-se uma visita à sala-museu de Casal Comba, no edifício da sede do Rancho de S. João, e um lanche oferecido aos professores pelos alunos.


Mónica Sofia Lopes

(in Jornal da Mealhada, 9 de Maio de 2007)

quinta-feira, maio 10, 2007


PAMPILHOSA


GEDEPA e Núcleo Filatélico

comemoram aniversário de Fialho d'Almeida


No sábado, 5 de Maio, iniciaram-se, na Casa Quinhentista, na Pampilhosa, as comemorações do 150.º aniversário do escritor e médico Fialho d'Almeida. A realização foi organizada pelo Núcleo Filatélico e Numismático do Concelho da Mealhada e pelo GEDEPA e pretende homenagear o escritor que foi médico no Lazareto da Pampilhosa.

No dia 5 de Maio foi aberta ao público, na Casa Quinhentista, uma exposição filatélica e de coleccionismo da qual faz parte um espaço destinado à memória do escritor homenageado. A exposição estará patente ao público até ao próximo domingo, dia 13 de Maio.

Na abertura da exposição, Machado Lopes, presidente da direcção do GEDEPA, disse: "A cultura agradece isto que estamos aqui a fazer hoje". De seguida, o grupo de teatro do GEDEPA representou um excerto do conto "O filho", que Fialho d'Almeida escreveu durante a sua estadia na Pampilhosa e tendo como fundo o ambiente desta exposição.

O investigador Paulino Mota Tavares fez uma prelecção sobre a vida e a obra do escritor. "Estou aqui a defender a língua portuguesa", afirmou. Mota Tavares lançou algumas ideias no sentido de continuar as comemorações do aniversário do escritor: "Podíamos fotografar zonas da Pampilhosa que simbolizam a época de Fialho d'Almeida, ou seja, contar a sua história em fotografias. Fotografar a casa onde ele viveu e, em Lisboa, tentar adquirir fotografias de sítios por onde passou".

Rui Pais de Carvalho, presidente da direcção do Núcleo Filatélico e Numismático do Concelho da Mealhada, informou que os CTT - Correios de Portugal vão editar um boletim informativo, com referências a Fialho d'Almeida. "Julgo que ainda este ano, os correios vão ter um selo do escritor. Teria sido bom se estivesse pronto agora, no aniversário", disse. Na sessão, e na mesa da presidência, estiveram ainda Luís Marçal Correia, presidente da Liga dos Amigos dos Campos do Mondego, Vítor Matos, presidente da Junta de Freguesia da Pampilhosa, Carlos Cabral, presidente da Câmara Municipal da Mealhada, Ana Ferreira, chefe da estação dos CTT da Mealhada, e Manuel Assis, presidente da assembleia geral do GEDEPA.

Na segunda-feira, 7 de Maio, entre as 15 e as 18 horas, esteve disponível para aposição um carimbo comemorativo do 150.º aniversário de Fialho d'Almeida. "Esta iniciativa contou com o apoio dos CTT que, nesse dia, descentralizaram serviços para aposição do carimbo", informaram os organizadores.


Mónica Sofia Lopes

(in Jornal da Mealhada, 9 de Maio de 2007)

segunda-feira, maio 07, 2007


À conversa com... o padre João Paulo Vaz

Apesar de termos muitos padres a morrer e poucos a serem ordenados, não é motivo para desesperar. Temos bons tempos aí à nossa espera.

Tem 37 anos e é paróco de Outil, Portunhos e Bom Sucesso. É ainda o responsável pelo Secretariado Diocesano da Pastoral Juvenil de Coimbra. Para além de pároco é também compositor e cantor. No dia 1 de Maio esteve na Pampilhosa onde, num espectáculo musical, fez prova desses seus dotes artísticos. No programa 'À conversa com...', no Rádio Clube da Pampilhosa, o padre João Paulo Vaz falou-nos, entre muitas coisas, de música, da mensagem que pretende transmitir e do balanço dos dois primeiros anos de pontificado de Bento XVI.

O espectáculo que produziu, que tem levado a vários locais e que gravou em CD, será uma forma de evangelizar?
Naturalmente que, sendo eu padre e pessoa envolvida na Igreja, por opção, desenvolvo um trabalho de evangelização. Assumo-o como um gosto pessoal porque gosto de compor, de cantar e de tocar. A música faz chegar mais facilmente a mensagem de Jesus Cristo, cuja transmissão assumo como sendo a minha missão.

Sente que a estratégia pode fazer com que as pessoas olhem de forma diferente para a mensagem cristã?
Penso que sim. Tem a ver com a nossa forma de sentir, com a nossa sensibilidade artística, seja pela música, seja por outras expressões. A arte ajuda-nos a viver as coisas, a experimentá-las com mais intensidade e a manifestar também um conjunto de vivências, de experiências. É, de facto, uma mais valia. É possivel fazer chegar uma determinada mensagem, com muito mais facilidade, pela música, porque mexe com esta nossa sensibilidade artística. Pegando nisto, unindo isto à mensagem cristã, naturalmente que, pela música, as nossas gentes, mais velhos e mais novos, estão mais capazes para perceberem ou acolherem esta mensagem. Isto porque se faz de uma forma mais sensível, mais artística.

Tenta, portanto, juntar o útil ao agradável?
Sim. Eu componho há muito tempo. A primeira composição que fiz foi em 1986. Passar isso para o domínio público e usá-lo como forma de evangelizar, partilhá-lo com as pessoas, é um projecto em desejo, com dez anos. Este é um meio privilegiado de evangelizar. A Igreja aposta na música num sentido mais litúrgico, num sentido mais celebrativo, pouco mais do que isso. Eu penso que é um caminho a explorar. Que não está definido, não há caminho feito e pode ser usado como uma mais valia.

Como tem sido a adesão do público? Sabemos que tem uma legião de fãs e há pessoas que costumam acompanhá-lo nos vários espectáculos que realiza.
Tem acontecido. Há um conjunto de pessoas que se deixam agradar pelas minhas músicas e que vêm atrás. Espectáculo a espectáculo vão-se notando. A adesão do público aos meus concertos processa-se do mesmo modo que em relação aos concertos de outros artistas. A não ser que seja alguém com um nome já construído, o caminho é feito com muitos anos de espectáculo. O público não é muito numeroso. Por outro lado, o espectáculo que eu faço não é um espectáculo para grandes multidões. Não o assumo como tal.

É um espectáculo intimista?
É um espectáculo para uma sala, mais partilhado, conversado. Portanto não é só o debitar de canções, mas é o passar a mensagem que é cantada. Faço também por explicar um pouco e por entrar em diálogo com as pessoas. Por isso até é mais vantajoso que o público não seja numeroso. Um espectáculo no formato que eu estou a seguir, neste momento, funciona bem com duzentas, trezentas, quatrocentas pessoas. Eu costumo dizer, em tom de brincadeira, que as pessoas, hoje, já nem festa querem, mesmo que seja oferecida. E, de facto, tenho passado por alguns locais em que, apesar de toda a divulgação e de todo o envolvimento, não estão muitas pessoas.

As suas músicas falam de Cristo e do seu testemunho, mas também falam de amor e de relações humanas. São músicas litúrgicas?
Eu agradeço essa pergunta. Faço sempre esta ressalva: as músicas que eu componho não são músicas para cantar na missa. Embora uma ou outra possa ser usada num determinado momento celebrativo. Os escuteiros fazem-no muito nas suas celebrações. Com algumas excepções, a minha música não é litúrgica. É canção de mensagem, canção que aborda vários temas. Pode ser usada em encontros informais, encontros organizados de jovens, encontros que tenham a ver com a Igreja. Mas não é uma música para usar numa eucaristia ou num outro qualquer sacramento. Não é esse o meu desejo.

Qual é, então, o seu desejo?
O meu desejo é que a mensagem, que a letra escrita e musicada possa provocar proveito na pessoa, no seu desenvolvimento pessoal, nos seus dinamismos de crescimento. Os temas vão muito pela auto-validação da pessoa, naquilo que a constitui, nas suas riquezas pessoais, naquilo que têm para dar a este mundo, no sentido social da sua vida, também. Vão muito no sentido da relação com os outros: sentido de amizade, da ternura, do carinho que devemos uns aos outros, sentido do olhar, do conhecimento do outro naquilo que ele é, sentido da oferta... E, também, as minhas músicas vão no sentido da relação com Deus, naturalmente. Deus, a pessoa de Jesus Cristo, aquilo que ele faz na nossa vida, a resposta que lhe damos e a relação que existe, ou que pode existir, entre os homens e Deus, ou seja, entre eu próprio e Deus.

"A Igreja teve muitos altos, alguns piores do que os desta fase, desta situação, e nunca morreu. Temos Deus do nosso lado."

Qual é a sua opinião em relação à exortação apostólica de Bento XVI sobre a questão do prevalecer, ou do dar preferência, ao canto gregoriano na liturgia dominical?
Eu defendo - e não só como padre, como homem da Igreja, como homem que se vale também dos sacramentos que a Igreja deixa, como sejam a eucaristia, o sacramento da reconciliação, a confissão - que há uma gravidade, no sentido positivo, que é devida a cada um destes momentos. São momentos demasiado importantes para serem celebrados de qualquer forma ou sem qualquer tipo de preparação. Há um tipo de canto que, como aconteceu durante muitos séculos e acontece ainda hoje, é próprio, não da Igreja mas da liturgia da Igreja. Porque os sacramentos e a liturgia são um aspecto da vida da Igreja, não são a vida da Igreja. São meios que nos são dados para vivermos a Igreja e vivermos a relação com os outros e com Deus. E para isso há, então, um canto próprio que não tem de ser o gregoriano.

Deveria retomar-se o latim na litúrgia?
Nem temos que cantar tudo em latim. Aliás, temos que questionar isso muito bem porque, quando entramos para um dinamismo de cânticos só em latim, a maior parte das pessoas não percebe o que está a cantar! De uma vez por todas temos que pensar também que aquilo que cantamos está ao serviço do momento em que se está a cantar. Aquilo que que eu canto tem que ser a oração desse momento. É a mesma coisa que no cântico do Pai Nosso, e digo isto muitas vezes aos escuteiros: Nâo cantem o cântico do Pai Nosso, no momento da Eucaristia. Se tiverem que cantar é o Pai Nosso, a letra do Pai Nosso. Realmente, eu não posso cantar qualquer coisa. Agora também não posso cantar tudo em latim.

Seria um retrocesso de dezenas de anos?
Não é porque não fique bem, é porque as pessoas não entendem o que estão a cantar. Não é tão acessível.

Uma das transformações do Concilio Vaticano II foi o uso da língua de cada povo na liturgia...
Exactamente. E isso deve ser garantido. Mas aquilo que a exortação apostólica de Bento XVI diz não é que devemos voltar ao latim, diz é que devemos purificar um pouco a liturgia. Há que lhe dar uma beleza que lhe é própria.

Acha que isso também é uma forma de moralizar, nomeadamente, aquelas correntes de teologia de libertação, da América Latina, que transformaram a eucaristia num espectáculo?
Haverá uma intenção nesse sentido, naturalmente. Nós, em Portugal, ainda não enfermamos muito disso, mas vamos tendo experiências do género, de um padre brasileiro ou africano que vem para aqui estudar e que, na comunidade, vai fazer aqui o que fazia lá. E a experiência diz-nos o quê? Que as pessoas até acham muita graça, porque dançam, batem palmas. É, de facto, mais atractivo, mas isso só nas primeiras celebrações, porque depois nós, que estamos inseridos numa cultura ocidental e diferente, chegamos a um determinado momento e cansamo-nos, e dizemos não. É o mesmo que um padre de Portugal ir para o Brasil ou para África e querer fazer lá como faz aqui. Não é possivel! Isto tem a ver com a cultura dos povos. Nesse sentido há uma intenção, também, de colocar as coisas no seu devido lugar.

Mas houve essa tentativa de importação...
Quando foi o fenómeno daquele padre brasileiro, Marcelo Rossi, que levou multidões atrás, com estádios cheios, com toda a gente a participar, colocou-se-me uma questão: terá toda aquela gente ido atrás de Jesus Cristo, que se celebra, ou foi atrás do padre Marcelo Rossi? Isto é um exemplo, porque eu até admiro o senhor. Correu o risco de mexer com as pessoas e dar-lhes alguma coisa. Mas por que é que isto não durou? Porque é que neste momento já não ouvimos falar deles e as multidões já não são as mesmas? Qualquer coisa falhou aqui. Basta um desencanto daquela pessoa para que tudo isto morra! De facto, as pessoas não foram atrás da pessoa de Jesus Cristo. Foram atrás da forma que aquele homem concreto dava às celebrações e que lhes agradava muito. Nesse sentido, a purificação dos esquemas ajuda-nos muito.

Sentiu oposição da parte de alguns dos seis colegas por considerarem que, com as suas canções, se afasta da forma tradicional de passar a mensagem cristã?
Não, não. Oposição nunca houve, pelo contrário. É claro que há sempre algumas reservas. Lembro um padre da nossa diocese, com algumas responsabilidades no sentido da liturgia e do canto, que me dizia: "Olha, cuidado, porque não podemos cantar tudo o que queremos!". E eu descansava-o porque estava consciente disso. Mas nunca tive oposição, até porque aquilo que eu canto vem ao encontro daquilo que fazemos e da própria comunhão que fazemos como diocese. Poderei dizer também que não senti o apoio que seria esperado, que seria necessário para que isto vingasse. Mas oposição, nunca.

O senhor padre é responsável pelo Secretariado Diocesano da Pastoral Juvenil e coordena uma série de movimentos e de associações. Acha que os jovens andam separados da Igreja?
Não. Às vezes andam distraídos, separados não. Nós vivemos num tempo que, na minha opinião, se caracteriza pela incapacidade de nos vincularmos a projectos. Esta geração, como a geração anterior, está rodeada por tantas solicitações, por tantas propostas, por tantas formas de estar possíveis, que perde por dispersão. Perdeu a necessidade de se agarrar a caminhadas e a projectos concretos. A Igreja também é um projecto. Viver a mensagem de Jesus Cristo na nossa vida é uma caminhada que se faz ao longo da vida. Isto torna-se difícil porque saltamos de experiências para experiências e de grupos para grupos. Eu coordeno a pastoral juvenil na diocese de Coimbra e vou vendo que não temos o mesmo número de grupos que tínhamos há uns quinze, vinte anos. Os jovens que estão este ano, daqui a um ou dois já não estão. Por outro lado, há gente muito nova que vem do crisma e que tenta caminhar mas não tem um líder, uma pessoa mais velha que esteja agarrada àquilo e, por isso, morre na sua caminhada. Ao mesmo tempo, isto provoca alguma insatisfação. Eu faço esta leitura também com muita esperança porque não é possível nós vivermos muito tempo assim, sem estarmos agarrados a alguma coisa que nos faça dar sentido à vida e que nos ajude a manifestar e a sentir aquilo que somos. Não conseguimos passar muito tempo sem ter um grupo de amigos, mais próximo, sem termos um projecto, uma associação, e isto não é só em termos eclesiais, porque em termos sociais acontece a mesma coisa. Nós olhamos para as nossas associações recreativas e culturais e vemos que estão a morrer aos poucos. Há uma incapacidade maior de nos agarrarmos a um projecto. Em relação à Igreja, passa-se o mesmo. A igreja propõe um projecto. E viver a mensagem de Jesus Cristo implica negar um determinado número de coisas que até me dão algum agrado, embora passageiro e imediato. Implica fazer opções. Os jovens não negam a Igreja e muito menos negam Jesus Cristo. Mas também não se envolvem, vão estando.

Não teme que essa linha continue daqui para a frente, ou seja, que os jovens continuem a não participar no quotidiano da Igreja?
Sim, isso vai continuar durante algum tempo mais. Olhando ao ritmo do nosso progresso e da vida das pssoas, os últimos dez anos nada têm a ver com os quarenta anos anteriores. Aquilo que sentimos como mudanças nestes dez anos que passaram vamos sentir muito mais nos próximos dois, três anos. Em menos tempo, sentimos mais mudanças. Isto vai continuar mas vamos chegar a um altura em que vamos dizer: Não conseguimos aguentar este ritmo. Vamos ter que reestruturar, chamar valores que vivíamos antes porque, se não, andamos perdidos. Em relação à prática cristã, vamos continuar com um descréscimo de participação das pessoas, mas vai chegar a um tempo em que sentiremos a necessidade de estar e de nos envolvermos. Quando digo isto não é só em relação à Igreja, mas também em relação às estruturas sociais que tínhamos e que estão mortas. Isto é como as calças à boca de sino: usaram-se muito em décadas que passaram. Houve uma fase, há pouco tempo, em que se usaram outra vez e agora já não se usam. Nós, homens e mulheres, somos assim: vivemos por hábitos, que adquirimos e vamos perdendo, e, normalmente, voltamos a eles.

Considera que esta sua forma de evangelizar, fora do espaço físico da Igreja, pode colmatar essa falha de participação?
Eu acho que sim. Caso contrário não o faria. As pessoas estão cada vez menos na igreja e o padre não se pode confinar às quatro paredes do templo ou às estruturas paroquiais, ou pastorais, de que é responsável. Não se pode confinar ao trabalho com os grupos de pessoas que já estão convencidas da palavra de Deus. Tem que se arranjar formas de chegar àqueles que o não estão. Jesus Cristo disse que veio para quem? Para os pecadores, porque os outros já não precisavam...

Existe, neste momento, um problema sério na Igreja portuguesa que é o da falta de vocações. Como é que este problema se pode resolver?
Em primeiro lugar, acho que a falta de vocações para a vida religiosa é um problema que se resolve tendo confiança. E a confiança, na relação com Deus, implica a oração. Quando sentimos que perdemos o controlo da situação, que já não estamos capazes de lhe responder, o que é que fazemos? Humanamente, procuramos quem possa fazer isso connosco, a par e melhor do que nós, porventura. Nós, cristãos, reconhecemos que Deus é aquele que tudo pode. Uma primeira estratégia é esta, a da oração. Por outro lado, é preciso criar estruturas que tornam a vida sacerdotal atractiva. Durante muito tempo, vivemos a ideia de que, para sermos padres, deixávamos muitas coisas boas para trás. Mas, na verdade, não é assim. O ser padre não significa, em absoluto, privação. Da mesma forma que o ser marido, ser casado, também não significa, em absoluto, privação. Há uma vida muito atractiva no matrimónio e, da mesma forma, há uma vida muito atractiva no sacerdócio ou noutro tipo de vida consagrada, que é vida de oferta, vida de entrega. Nós encontramos cada vez mais gente que não assume ou que não escolhe o matrimónio. A mesma crise que temos no sacerdócio temos no matrimónio. O que há a fazer é redescobrir o sentido de cada vocação e a beleza de cada vocação. Hoje, há um trabalho muito interessante na nossa diocese, com a experiência do pré-seminário e com a experiência do acompanhamento dos jovens candidatos ao sacerdócio, sem estarem integrados num seminário. Sem estarem a fazer vida interna de seminário. Há uma leveza muito grande na forma como este trabalho está ser feito e na forma como é apresentado aos jovens. Eu vejo isto com alguma esperança. Apesar de termos muitos padres a morrer e poucos a serem ordenados, não é motivo para desesperar. Temos bons tempos aí à nossa espera. Em dois mil anos, a Igreja teve muitos altos e baixos, alguns piores do que os desta fase, desta situação, e nunca morreu. Temos Deus do nosso lado.

Há quem defenda que o casamento dos padres não prejudicaria a sua actividade religiosa nem colocaria em segundo plano a fé em Deus.
Não, de facto não. Um padre poderia ser um bom padre, poderia, sempre, ser uma pessoa com uma relação muito próxima com Deus. Mas...

Então sempre há inconvenientes...
Já não lhe seria possível uma relação tão próxima com as pessoas. Estou a referir-me, simplesmente, a questões práticas. A família seria sempre a prioridade do padre, como deve ser a de qualquer outro homem casado. Depois é que viria a disponibilidade para o trabalho pastoral. Isto são questões práticas. Para mim a questão mais profunda, é a que se prende com a vocação da pessoa. Eu não sou capaz de conceber um homem a ter a mesma relação de amor, de intimidade e de união e comunhão com duas mulheres ao mesmo tempo. Humanamente, isto não existe! Ou uma mulher conseguir amar dois homens e viver com dois homens em comum, ao mesmo tempo. É como estar dentro de uma sala, ter duas portas de saída, e querer sair ou entrar pelas duas ao mesmo tempo. Ou entro por uma ou entro por outra. E não é uma questão de uma anular a outra. É uma questão de caminhos que têm a ver com a pessoa, com aquilo que foi criado em cada pessoa, riquezas pessoais de cada um e que se manifestam, desta forma. Não há duas formas iguais de amar, variam de pessoa para pessoa. E por isso também, cada pessoa tem o seu caminho. E isto não significa privação. Significa realização, caminho pessoal de vida.

O padre João Paulo Vaz tem participado nas Jornadas Mundiais da Juventude, uma das criações de João paulo II. Que balanço faz, também nesta perspectiva, do trabalho realizado pelo papa Bento XVI?
Quando se fez a eleição do actual Papa não sei se tive medo ou se fiquei com dúvidas... Era natural. Depois de um João paulo II, Papa desde 1978, com todo aquele dinamismo, nós, esta geração, olhamos para ele e dizemos: É o nosso papa. E continua a ser. Nós ainda estamos a viver muito à sombra de João Paulo II. Embora haja o respeito, natural, por Bento XVI, na última Jornada Mundial da Juventude, em Colónia. Esteve muito bem, muito próximo dos jovens e, de alguma forma, fez lembrar um pouco a proximidade que João paulo II sempre teve connosco. E ganhou os jovens naquela jornada. Se perguntarmos hoje, aos jovens do mundo inteiro, o que sentem em relação ao papa Bento XVI, sentem-se bem. Aliás, está convocada a próxima jornada, para Sidney, em 2008, e tudo continua a andar com o mesmo dinamismo. E queremos ir estar com o Papa. Ele ganhou os jovens, em Colónia, e muito bem. Por outro lado, também ganhou o respeito da Igreja e mostrou-se como um bom papa, um bom chefe da Igreja, com a encíclica "Deus é Amor". Um texto fantástico que vem ao encontro daquilo que são as nossas necessidades.

Bento XVI tem sido muitas vezes criticado por ser demasiado radical. No entanto, é um grande teólogo.
É um homem com uma lucidez e uma clareza de ideias muito grande. A definição que ele dá do amor e a forma como ele explora este amor que Deus é e que, em prolongamento, nós somos também, é, de facto, fantástica. Nesse sentido, ele ganhou também um pouco a Igreja, ganhou o respeito da Igreja, como chefe da Igreja. Passou a ser uma referência para nós. E isso, passe a expressão, é de Papa. Penso que o balanço destes dois anos é muito positivo. Questionou-nos muito o facto de, com a idade que tem, ele ser eleito papa. Pensámos: Não vai ter tempo para nada. Esta era a minha primeira impressão. Deveria ter sido eleito uma pessoa que pudesse continuar, durante muito tempo, o trabalho de João Paulo II. Mas também é importante para a Igreja um papa que ajude a confirmar, a solidificar tudo aquilo que João Paulo II fez. E Bento XVI assumiu isso muito bem. Ele estava próximo, conhecia o pensamento de João Paulo II. Está a fazer um bom pontificado. Deus lhe conserve a vida e lhe dê anos. A nível teológico temos muito a ganhar. Cada vez mais me convenço que o espírito de Deus paira sobre nós de uma forma activa. Eu hoje estou convencido de que este era o Papa que a Igreja precisava, agora!

(in Jornal da Mealhada, 2 de Maio de 2007)