Universia

domingo, março 18, 2007


À conversa com... Fernando Correia


"Não é necessário haver uma ligação directa com uma universidade para se fazer ciência", disse o entrevistado


Fernando Correia é biólogo. Licenciou-se em Coimbra onde, também, tirou o mestrado em Ecologia Animal, e trabalha, desde 1994, na divulgação gráfica e por escrito de conteúdos científicos das áreas da sua formação académica. No início da sua actividade de ilustrador científico trabalhou com Jorge Paiva, Isabel Abrantes e Susana Santos, todos da Universidade de Coimbra. Vive na Pampilhosa e dedica-se, principalmente, à ilustração botânica. Confessou, no entanto, a João Santos e a Nuno Castela Canilho, aos microfones da RCPfm, que lhe agrada mais a ilustração na área da zoologia.


"Atuns, bonitos e cavalas - nómadas do atlântico" é o título do livro que publicou recentemente. O que pode levar o leitor a comprar essa obra e a colocá-la na mesinha de cabeceira? Não trata de um tema comum...

Se calhar até é um tema comum. E o leitor, para além de o escolher para a mesinha de cabeceira, também o escolhe, por natureza, para a mesinha onde se alimenta. O atum é um peixe que está nos nossos hábitos alimentares, está enraizado na nossa história desde os primórdios de Portugal e, por isso, o assunto tem a sua pertinência. Há uma segunda pertinência que é o facto de ser um tipo de peixe com características muito interessantes, mas que está à beira da chamada extinção comercial, ou seja, nós já não poderemos explorar mais os seus estoques marítimos. Há, portanto, a necessidade de alertar o público para essa contigência. A obra que publicámos é um livro amplamente ilustrado que prima por criar uma mensagem a dois níveis, seja um nível mais cientifico, até porque é um livro de divulgação cientifica, seja um segundo nivel, que permite puxar um outro tipo de público, que se interessa mais pela história que as imagens contam.


É uma boa oportunidade para as pessoas perceberem que o atum não é apenas um animalzinho que vem dentro das latas...

Exactamente. O que nós vemos nas latas é a parte muscular do atum, o que comemos, como comemos a parte muscular de outros animais. As pessoas não se apercebem de que aqueles oitenta e cinco gramas, ou duzentos gramas, daquelas latas pequenas, são extraídos de um animal que pode, muitas vezes, chegar até aos setecentos quilos, o que é extraordinário para um peixe.


Como surge um livro deste tipo? É uma encomenda, uma sugestão ou resulta da vontade única dos seus autores?

Neste caso surgiu a partir de uma sugestão do editor com o qual eu e o meu sócio, Nuno Farinha, temos vindo a trabalhar já há muitos anos. Este editor é responsável por duas importantes colecções, se calhar até únicas no contexto nacional, que são a colecção do património natural transmontano e a colecção do património natural açoriano. Dentro desse contexto nós temos criado uma parceria bastante interessante em que procurámos que o editor puxasse um bocado mais pela qualidade das suas obras. Por isso, temos tido um trabalho de direcção da arte presente nesses livros e a qualidade dessas publicações tem aumentado. Tal facto tem sido reconhecido não só pelo editor, como também pelo público. Isso traz a si outras necessidades. A colecção começou com dois ou três livros e hoje tem um significativo exponencial de livros que estão a ser feitos em paralelo, em simultâneo.

Há cerca de de dois anos o editor teve esta ideia e sugeriu-nos este tema. Nós agarrámo-lo mais pela importância do atum no contexto da nossa dieta, no contexto dos recursos naturais. E, a partir daí, foi feita uma investigação, uma série de contactos, uma vez que não sou biólogo marinho. A minha especialaização é na parte da ecologia terrestre e, como me considero um biólogo generalista, tenho, como os antigos naturalistas do século passado, gosto de abordar tudo na sua generalidade. Mas precisamos de ser complementados e, nesse sentido, reuni um leque de investigadores, experts na matéria, que me auxiliaram com as suas sugestões. Depois disso, houve a parte, em que eu me sinto mais à vontade, que é a parte da ilustração. O livro foi complementado com os resultados de uma investigação bastante aturada que nos levou a deslocarmo-nos até aos Açores.


Foi um desafio para a sua carreira?

É um desafio e não é. Obviamente não era o nosso primeiro livro e, portanto, já estávamos habituados a trabalhar no sentido de saber como divulgar a ciência. Já sabíamos aquilo que é importante para o público. Nós colocámo-nos muitas vezes do lado de lá. A primeira questão a que tentamos responder é: O que é que nos interessa conhecer? O que é importante as pessoas saberem? Quais vão ser os anzóis para captar a atenção, para mantermos as pessoas interessadas ao longo do livro? Nesse sentido há sempre um desafio, de facto, apesar de já não ser uma novidade.


Quanto tempo demorou este livro a ser feito?

Este livro cerca de um ano, um ano e meio, a ser feito, entre pesquisa, execução de textos, correcções e sugestões, entre fazer as ilustrações e submetê-las aos experts, para eles também fazerem as suas críticas e depois emendas. Até à parte final, em que tudo já está em ponto de caramelo para ser tudo colocado, maquetizado e, depois, fazermos o design para que a mensagem seja lida como um todo.


A paginação também é da vossa autoria?

Sim. A única coisa que não fazemos, ainda, e esperemos que um dia venhamos a fazer, é a impressão.


Para além da escrita, há a ilustração. Não se trata de um processo linear...

Exacto. Não é um trabalho que se possa fazer ao sabor da pena.


Uma obra deste tipo carece de inspiração.

Sim, a inspiração conta muito. E escrever de uma maneira que seja atractiva também não é linear.


Falou-nos do público. Este não é um tipo de livros feitos de investigadores para investigadores?

Não é totalmente assim. O que temos nas nossas mãos não é um manual de investigação, nem um manual científico. É um livro de divulgação científica. Tem outros cuidados em termos de linguagem utilizada, na maneira como são conjugados os vários temas, como se criam interligações. Não se trata de divulgarmos o nosso trabalho para os nossos pares inverstigadores, mas para um público mais abrangente, muitas vezes para pessoas que, por exemplo, aquilo que conhecem de um atum é aquilo que vêem na mesa. Aí, temos de cativar e, de certa maneira, dirigir a informação de modo a que seja apelativa. Tem de haver um cuidado grande na construção do texto, na construção das imagens e na construção de um todo coesivo do livro. As pessoas têm de se sentir tentadas a tirar um livro destes da prateleira das livrarias, folheá-lo, ler algumas partes que têm pontos-chave para chamar a atenção e, obviamente, comprar.


Já nos disse que não trabalha sozinho, que tem um sócio, Nuno Farinha. O trabalho em dupla tem sido importante para a concretização deste tipo de projectos?

Eu costumo dizer muitas vezes às pessoas que duas cabeças pensam melhor do que uma. Não é normal no nosso país, pelo menos nesta área, que existam equipas. Eu entendo que temos sempre a ganhar nessa perspectiva porque há o confronto de duas maneiras diferentes, de duas ideias diferentes, que arranjam soluções diferentes para o memso problema. Quem fica a ganhar com isto é sempre o cliente. A mensagem do livro é sempre feita por duas pessoas, complementado por duas pessoas e, obviamente, em termos de prazo, conseguimos sempre dividir o trabalho e fazemo-lo em metade do tempo, teoricamente.


E da discussão acaba sempre por resultar melhor qualidade.

Claro, sem dúvida.


O vosso livro teve o apoio da Câmara Municipal da Mealhada. Terá sido, também, um importante empurrão para a conclusão deste projecto...

De facto foi uma mais valia. As câmaras municipais, com a sua intervenção, têm sempre um papel importante no auxílio dos autores, porque ajudam e fomentam um bocadinho o trabalho.


Mora na Pampilhosa. O facto de a sua morada e o seu ateliê se situarem entre duas grandes universidades com tradição científica ajuda no exercício da sua profissão?

Eu costumo dizer que enquanto tiver telefone e tiver computador e electricidade, nada me assusta. Hoje em dia, face a estas novas tecnologias, nós conseguimos trabalhar, nem que seja do outro lado do mundo. Nós temos clientes com os quais não contactamos fisicamente, mas através de vídeo-conferência, de e-mails, ou através de outros meios e, desse modo, conseguimos controlar todo o trabalho. Eu vim aqui parar à Pampilhosa e é engraçado porque, se formos a ver, esta vila não está só entre dois pólos universitários importantes, mas também está entre a serra e a praia, entre os comboios e as auto-estradas. Portanto, se analisarmos tudo isto, residir na Pampilhosa é um benefício, em relação a outras localidades. Em termos de ciência, eu acho que as universidades exercem uma acção de fomento nesta área, porque, teoricamente, é nestas casas que ela se desenvolve. Coimbra está com uma tendência para extravasar, Aveiro sempre teve uma dinâmica diferente, também porque é uma universidade muito mais nova. As pessoas que têm uma certa energia e dinâmica criam os seus próprios trabalhos, ou seja, não é necessário haver uma ligação directa com uma universidade para se fazer ciência.


É inegável que este livro tem ilustrações de grande qualidade e em número apreciável. Este livro tem ciência mas também tem beleza. Será a beleza o que mais cativará os leitores?

Como toda a gente sabe, nós somos primatas. E o primata é um animal extremamente visual, ou seja, o que nos cativa nma primeira vez é aquilo que observamos e depois é que se distribui pelos outros sentidos. Num livro que prima pela imagem, obviamente que a pessoa que o folheia sente-se atraída pela beleza que ele possa conter nessas imagens. Portanto, o primeiro ponto de ancoragem à obra são sempre as ilustrações, imagens ou fotografias. Nestes livros de investigação científica a ilustração ocupa um grande espaço em toda a obra porque conta uma segunda história. Nós conseguimos através das imagens obter uma série de informação que não está descrita no texto . O leitor que folheie o livro consegue, numa primeira pesquisa da obra, ter uma noção muito geral de quais são os temas nela abordados. Logo, automaticamente, sabe se se sente atraído é meio caminho para o adquirir.


Além deste livro Fernando Correia já participou em outros projectos. Será possivel enumerá-los e enumerar também outros livros que o senhor e o seu sócio tenham também publicado?

Em termos de publicações de que somos autores contam-se obras grandes, na base das duzentas páginas, e outras mais pequenas, como catálogos, em exposições. Fizemos obras para parques do nosso país, como o Parque Biológico de Gaia e a Quinta de Aveleda, parques ligados à fauna exótica. Depois temos outros livros, da nossa autoria, de divulgação geral. O primeiro livro com o qual nós começámos foi uma obra criada para a Câmara Municipal de Coimbra, o livro "Coimbra, parques e jardins" e no qual abordámos doze grandes jardins de Coimbra. Há mais, mas, digamos, estes foram os mais emblemáticos, como, por exemplo, o Jardim Botânico. E posso também citar outro que hoje já não existe, que é a Mata de Vale de Canas. E as pessoas, através deste livro, podem recordar um bocadinho qual é que era o património desta mata. Nós temos todo um conto de imagens, daquilo que já não existe, porque neste momento só se vê espaço vazio e árvores caídas.


Como é que um biólogo, ligado à área da ciência, se torna um ilustrador, que, para todos os efeitos, é uma pessoa com formação artística? Fernando Correia tem que dominar técnicas de ilustração que, normalmente, no percurso escolar normal, curricular, não estão acessíveis a um cientista ou a um biólogo. Como é que isto aconteceu?

É assim: Eu também digo, em brincadeira, que comecei muito cedo porque os meus pais me deixavam fazer pintura rupestre nas paredes de minha casa. Obviamente que sofri os respectivos correctivos e aprendi que devia utilizar o papel. A partir daí foi gradual. Eu fui autodidacta na questão da arte, na questão das técnicas artísticas, e aprendi a devorar muitos livros, porque se aprende também a ver, a ler e, muitas vezes - isto não se devia dizer -, a copiar, não o que as outras pesoas fazem, mas as técnicas que utilizam para chegar a um determinado efeito. Essa foi a primeira abordagem. Mas eu também sempre tive vontade de estar em contacto com a natureza, porque a biologia foi a minha parte inicial. O engraçado desta situação foi o que eu vi que podia conjugar as duas, numa determinada actividade, que é a ilustração científica. Posso criar um híbrido entre a ciência e a arte. Basicamente, foi esse o percurso em termos de como conjugar as duas actividades. Aliás, nós damos formação sobre ilustração científica em vários locais e em várias universidades. Criámos, em 1996, a disciplina de Desenho Biológico, que faz parte do currículo de estudos na Universidade de Évora. Era um disciplina na qual leccionávamos esses conhecimentos. Nós íamos ensinando através da nossa própria experiência. O engraçado foi quando fomos confrontados com professores de Belas Artes que vinham frequentar os nossos cursos. E nós diziamos: O que é que nós lhes temos para ensinar? A resposta é: Nós temos um a dinâmica muito prática e eles, muitas vezes, têm que ter a percepção do conceito, na maniera como fazem uma silhueta, na importância do risco, na maneira como estabelecem o contorno. Nós nesses cursos tivemos que tirar um bocadinho esses vícios da abordagem rápida dum objecto para incutir o hábito de um abordagem cuidada. O que fazemos em ilustração científica não é desenhar de memória, é observar e desenhar o objecto que temos à nossa frente.


Nos trabalhos que apresentam, usam as técnicas tradicionais, aguarelas, tintas?

Já passámos essa fase. Nós começámos pelo lápis. Daí partimos para um meio de expressão descontínua, que foi a tinta da China, em que criámos ilusões ópticas, com base no branco do papel e no preto da tinta. De seguida, partimos para a expressão da cor e aqui foi outro desafio. Também porque começámos pela técnica menos fácil, a dos óleos e destes passámos para o acrílico e daqui para as aguarelas e oa guaches. Depois, em 1998, começámos a aperceber-nos das potencialidades das plataformas informáticas, dos computadores, dos programas, e começámos a explorar esse meio. Desde essa altura até hoje, posso dizer que tenho um estirador em casa, que serve para suportar livros, tenho um armário cheio de tintas, que lá estão guardadas para os meus filhos usarem um dia destes, se ainda estiverem boas, tenho uma carrada de lápis, mas o meu trabalho é todo feito, praticamente, no computador.


No concelho da Mealhada existem vários programas de consciencialização ambiental. Isto é algo que se pode aprender?

Eu considero que sim. Se nós olharmos para o nosso país em redor ou para África, nós somos um verdadeiro oásis de que vale a pena cuidar, não só porque temos um a diversa variedade de espécies animais e de plantas, como também temos uma grande extensão de costa. Essa necessidade de sensibilizar as populações para esse nível de conservação de energia - a reciclagem, por exemplo -, demonstra que existe uma série de situações com a qual podemos colaborar. Eu considero que, para além do contributo dos nossos livros e das nosass obras, há um outro factor bastante importante nas povoações, que são as associações. Nós temos associações de folclore, mas também já começamos a ter associações dedicadas ao ambiente. Uma delas é, na Pampilhosa, "A ofinica das ideias", que está, essencialmente, preocupada com esse aspecto.


Voltando à ilustração, como é que se chega da ideia até à obra, propriamente, dita? Como é que fazem o desenho de uma ave ou de um animal de grande porte, como uma baleia, por exemplo?

Aí está um aquestão complicada, pois não podemos ir à praça e comprar um animal, aliás porque as baleias estão protegidas e, felizmente, ainda bem, que assim é. E também não é um peixe, é um mamífero. Temos que ter em, atenção o seguinte: Quando nós fazemos uma determinada ilustração, temos de fazer um grande trabalho de pesquisa, que pode ser descritiva, vamos consultar textos e também fazemos uma pesquisa ao nível da imagem. Um dos nossos grandes gastos são, sempre, os livros. Estamos sempre a investir em livros. Uma outra hipótese de trabalho é observarmos documentários na televisão; e outra, ainda, é irmos à nossa querida Internet. Felizmente, que ela existe. Nela conseguimos, rapidamente, adquirir toda uma série de imagens. Ora bem, estas imagens servem de base para nós construirmos e fazermos o nosso desenho, ou seja, não se trata de uma cópia, mas o que se pretende é obter uma série de vistas e, a partir daí, escolhemos uma pose de animal e desenhamos. É uma imagem construída, não é uma imagem copiada. Conjugamos informação descritiva com informação visual e criamos um corpo novo, que ilustra uma espécie, que é um conceito abstracto.


A ilustração animal, pelo desenho, tem uma longa tradição na história da arte. Na idade da tecnologia que vantagens tem sobre a fotografia?

Quando surgiu a fotografia houve logo muita gente que disse: A ilustração científica morreu. Nós vimos que não morreu, muito pelo contrário, adaptou-se e faz uso da fotografia como complemento para criar a ilustração. Quando surgiu o vídeo, a mesma história. E quando surgiu o computador, as pessoas pensaram que, com os programas, não era necessário fazer muito mais coisas. Mas o vídeo, os computadores, etc., são uma ferramenta apenas, porque tem de haver uma criatividade por trás, um conhecimento. Caso contrário, o computador não produz a imagem, não produz a ilustração. Mesmo que, nete momento, esteja a trabalhar quase a cem por cento com programas em computadores, eu faço uso de todos os conhecimentos que obtive, anteriormente, com trabalho em técnicas clássicas, e consigo produzir, o mais rapidamente possivel, uma ilustração. Contudo, às vezes olha-se para um a fotografia e não se vê aquilo que ela realmente vale, não se vê os dias de frio que um fotografo passa para fotografar um pássaro, por exemplo. Portanto, uma fotografia também tem outros problemas, como, por exemplo, quando foca um plano, desfoca os outros ao lado. A ilustração supera esse aspecto.


Podemos então dizer que a fotografia e os computadores são ferramentas para a ilustração, mas para o cientista a ilustração continua a ser indispensável?

Aliás, nós temos campos da ciência que vivem e sobrevivem sobretudo a partir da ilustração. Por exemplo, os fósseis são restos de seres vivos que existiram há milhões de anos e, portanto, não temos fotografia que vá até essa altura.


Fernando Correia é também o fundador da associação "Oficina das ideias".

É uma associação bastante recente. A "Oficina das ideias" teve a sua génese em Maio de 2006. Tivemos alguns meses de actividade, entre o Verão e o Outuno, fechámos para balanço no final do ano e vamos arrancar com uma série de actividades no início da Primavera. Eu sou um dos fundadores, mas há mais pessoas metidas na associação.


Quais são os objectivos desta agremiação?

Essencialmente, tem três grandes objectivos. Congrega pessoas viradas para o desporoto, pessoas que estão preocupadas com o ambiente e pessoas que se preocupam com a cultura. Portanto, tem três grandes domínios. Dentro do desporto temos várias actividades, mas a que sobressai é a capoeira. Dentro do ambiente a que sobressai são as nossas relíquias, as que temos aqui na nossa proximidade, embora consigamos desenvolver actividades fora da freguesia. Dentro da cultura também procuramos associar-nos e criar actividades que tenham um bocadinho a ver com a divulgação: não só a chamada poesia, não só a chamada etnografia, não só o que tem aver com o folclore, mas também os outros campos, que têm um bocadinho a ver com a ciências e que estão esquecidos. Nós começámos, já em 2006, com um actividade de desporto, com um grande encontro internacional. Começámos em grande. Trouxemos mestres de capoeira do Brasil e foi feito um misto com praticantes de várias localidades. Espalhámos a nossa actividade pelas zonas limítrofes da Pampilhosa e agregámos pessoas da Marinha Grande, da zona de Montemor, de Coimbra e, também, se não me engano, de Abeiro. Depois fizemos um primeiro fim-de-semana astronómico, aqui na Pampilhosa, que foi muito bom, correu muito bem. Tivemos boa receptividade em termos de observação. As pessoas puderam observar o Sol, as manchas solares. Tivemos também dois aspectos paralelos que funcionaram, um com palestras e outro com uma observação nocturna em que as pessoas puderam, observar as galáxias que, se calhar, já não existem.


O que é grupo Muzenza, de que Fernando Correia faz parte?

O grupo Muzenza é um grupo internacional de capoeira, com o qual a "Oficina de ideias" estabeleceu uma parceria e com o qual desenvolve várias actividades. Nós estamos muito satisfeitos com a receptividade que temos tido.


Na perspectiva de quem escolhe uma determinada localidade para morar, a Pampilhosa concretamente, é fácil inserir-se na comunidade?

Eu estou cá a viver vai fazer dez anos e, praticamente, não tive problemas nenhuns. Acho que há uma preocupação por parte das pessoas da comunidade em corresponder. Pessoalmente, também conheço a realidade de Coimbra, que é bem diferente. Aí as pessoas não se conhecem. Aqui, num meio mais pequeno, há essa qualiadde de vida, que eu recomendo, amplamente. Os vizinhos preocupam-se com o nosso bem-estar, como o nosso património, há um relacionamento muito acalentador com as nossas crianças, um cuidado extremo.


Recuando um pouco na nossa entrevista, depois desta pausa de Inverno, o qe é que podemos esperar em 2007 da associação "Oficina das Ideias"? Há projectos em cima da mesa?

Há vários. Um dos projcetos que é mais imediato é falarmos sobre o grande património das algas, que é uma componente do reino vegetal, que as pessoas desconhecem e são capazes de pontapear na praia, porque as ignoram. As pessoas nem se apercebem de que estão fartas de comer algas no dia-a-dia, quando comem um queijo, um iogurte, um gelado ou gelatina. Vamos trazer cá uma expoisção cujo coordenador vai ser o professor Leonel Pereira, que é também daqui da Pampilhosa. As pessoas vão poder tomar consciência desta mais valia. Outro projecto é fazer uma exploração do registo fóssil que temos aqui à nossa volta. Portanto, vamos tentar fazer um safari fóssil. Vamos explicar os cuidados que se devem ter na extracção de um fóssil.


Todas essas actividades estarão para breve, para o iníco da Primavera, talvez?

Correcto. depois teremos uma actividade desportiva, novamente em relação à capoeira, vamos também fazer cursos de ilustração, cursos de sensibilização de primeiros socorros, de cuidados que devemos ter por causa dos acidentes. Vamos tentar trazer também a educação sexual a toda a gente, incluindo as crianças.


Pessoalmente, que projectos tem para o futuro?

Tenho vários projectos. Em termos de livros temos vários desta colecção sobre o património natural que vão sair. O mais imediato é um sobre o javali, em co-autoria com o doutor Carlos Fonseca, da Universidade de Aveiro. Depois temos outros dentro do património natural açoriano e outro, que está a ser feito pelo professor Leonel Pereira, sobre as macro-algas do nosso país. Há sempre vários trabalhos, sempre vários livros que estão a ser feitos. Não só entre a minha equipa, eu e o Nuno Farinha. Também procuramos estabelecer sinergias com outros autores. Em 2005, por exemplo, criámos um livro intitulado "As fontes e chafarizes de Coimbra". Qquem fez os textos era uma pessoa como o senhor, como eu, que não tinha formação científica, que se dedicou a fazer um levantamento das fontes que existiam na cidade. Nós depois completámos eess trabalho com uma parte de biologia.


(in Jornal da Mealhada, 14 de Março de 2007)