Universia

quarta-feira, fevereiro 07, 2007


CASAL COMBA

Debate sobre
o referendo do aborto

Promovido pela associação cívica Movimento Odete Isabel (MOI), decorreu no sábado, dia 3 de Fevereiro, em Casal Comba, um debate sobre o aborto. Foi moderador o professor doutor José Barros, que é também obstetra, e oradores a drª Margarida Viegas, do "Movimento da Cidadania e Responsabilidade pelo Sim", e o dr. João Caetano, "Movimento Aborto a pedido? Não!".
Margarida Viegas começou por afirmar que "todos os presentes conhecem alguém, por mais distante que seja, que tenha feito um aborto" e perguntou se "algum dos presentes é capaz de denunciar alguém que já tenha feito um aborto", adiantando a resposta: "Obviamente que não". A oradora garantiu serem das classes mais desfavorecidas as mulheres que têm sido condenadas pela prática do aborto e questionou o facto "de os movimentos que defendem o 'Não' usarem muito o argumento de que só se engravida porque se quer, uma vez que existem os métodos contraceptivos para o evitar".
Margarida Viegas alegou que "são quase nulos os custos que podem resultar de um aborto uma vez que, feito legalmente, e com as devidas condições, não é necessário nenhum dia de internamento" e defendeu a ideia de que existem mulheres que têm contacto com os serviços de saúde, pela primeira vez, quando vão fazer um aborto, ou seja, "quando uma mulher se dirigir a um centro hospitalar para realizar um aborto, dar-lhe-emos as condições necessárias para, a partir desse momento, ser seguida e informada pelos serviços de sáude".
João Caetano começou o seu discurso dizendo que "defende o 'NÃO' porque sabe o que quer para o futuro da sociedade e porque tem consciência de que a maioria das mulheres aborta em condições muito difíceis". O orador enfatizou a sua ideia dizendo que "se o 'SIM' ganhar vão existir dois momentos, um em que a mulher é criminosa, porque aborta depois das dez semanas, e outro em que a vida humana é completamente desvalorizada". Questionou, ainda, o facto de o aborto poder ser decidido apenas pela mulher.
Depois de algumas questões propostas pelo público, Margarida Viegas afirmou: "O aborto já está liberalizado em Portugal, porque ninguém deixa de o fazer. Quem quer, fá-lo na mesma. O 'SIM' respeita aqueles que querem ter os seus filhos e aquelas que não querem prosseguir com uma gravidez". Sobre a possibilidade de as mulheres optarem por não abortar e entregarem os filhos a instituições, Margarida Viegas comentou: "Não consigo compreender por que é que uma mulher teria de carregar um filho durante nove meses para depois o doar a uma instituição", concluindo: "Em Portugal estamos a lutar por uma lei que, por exemplo, já existe há trinta anos em França".
João Caetano realçou a ideia de que o aborto tem, para as mulheres, imensos efeitos indesejáveis, não só fisicos mas também psicológicos, e aconselhou a leitura do livro "Eu abortei. Testemunhos reais de abortos provocados", de Sara Martin Garcia. "Em caso de dúvida se existe, ou não, vida até às dez semanas, deve salvaguardar-se a vida. Em caso de dúvida, prevalece sempre a vida", apelou João Caetano.
Margarida Viegas concluiu a sua intervenção a favor do "SIM" dizendo que, "independentemente de ganhar o 'SIM' ou o 'NÃO', os dois têm de tentar combater o aborto porque temos de lutar por uma maternidade responsável". "Não somos a favor do aborto, somos a favor da despenalização das mulheres", disse também Margarida Viegas.
Para João Caetano "os dados oficiais, em todos os países do mundo, provam que o aborto aumentou depois da sua despenalização".
Segundo José Barros, "se o tema do aborto for discutido com paixão, as coisas correm sempre mal", acrescentando que "a opção pelo 'NÃO' está convicta na medida em que cada aborto que não se realiza é uma vida que nasce, é a vida que prevalece". O moderador foi também de opinião que, qualquer que seja a lei que não permita o aborto, este vai continuar a existir e apelou a "um voto com consciência, pesando todos os prós e os contras do 'SIM' ou do 'NÃO'".

Mónica Sofia Lopes
(in Jornal da Mealhada, 7 de Fevereiro de 2007)