À conversa com... Ricardo Pereira
"Para um Carnaval que tem tido reis brasileiros, nada melhor que convidar um actor português com passado artístico ligado ao Brasil"
Ricardo Pereira foi o rei do Carnaval Luso-Brasileiro da Bairrada. O actor, nascido a 14 de Setembro de 1979, cresceu entre Lisboa, Sesimbra e a Ericeira. Aos dezasseis anos começou a trabalhar como manequim, passando por cidades como Milão, Paris, Barcelona e Madrid, e participou em mais de oitenta anúncios de várias marcas. No ano de 2000 teve a primeira experiência em televisão na série "Bairro da Fonte". A partir daqui, tomou parte em várias novelas, portuguesas e brasileiras. No Brasil fez parte do elenco de "Prova de Amor", onde foi o protagonista, e de "Pé na Jaca", da TV Globo. Foi também actor no filme "Sonhos e desejos".
João Santos, da RCPfm, e Nuno Castela Canilho, do Jornal da Mealhada, falaram com Ricardo Pereira, em 17 de Fevereiro, no Palace Hotel do Buçaco, onde ficou hospedado.
Qual é a sensação de ser rei do Carnaval Luso-Brasileiro da Bairrada?
Em primeiro lugar, fiquei muito surpreendido com o convite, devido ao costume, publicamente conhecido, de, na Mealhada, ser brasileiro o rei do Carnaval. Naturalmente, não me posso dissociar da ideia de ter trabalhado no Brasil. Mas, para um Carnaval que tem tido reis brasileiros, nada melhor que convidar um actor português com um passado artístico ligado ao Brasil.
Já conhecia o Carnaval da Mealhada?
Conhecia, por notícias na televisão. Por aquilo que ouço falar, pode dizer-se que é o Carnaval mais brasileiro de Portugal. Pode dizer-se também que é o Carnaval com mais estrutura, no nosso país, e que capta mais pessoas. Afirmo isto porque tenho vários amigos na Mealhada e, noutras situações, já vim aqui ver peças de teatro, participar em ralis paper e em degustações de vinho. Nessas alturas já me diziam como era esta festa, que é a principal da Mealhada, ou uma das principais. Foi um convite especial, o que me dirigiram.
Em relação ao rei existe uma expectativa muito grande da parte das pessoas do concelho da Mealhada e desta região. Sente uma grande responsabilidade por ser o centro das atenções de milhares de pessoas?
Espero que, este ano, o Carnaval tenha o sucesso que teve em anos anteriores. A expectativa inerente ao rei é normal porque, no fundo, ele simboliza o Carnaval. Espero que as pessoas olhem para um rei português como olham para outras figuras portuguesas e espero também fazer um trabalho tão bom como o dos reis anteriores, ou melhor.
Como é que o Ricardo, entre tantos actores portugueses, descobriu o Brasil? Ou foi descoberto pelo Brasil?
Eu fui descoberto pelo Brasil. Eu descobri o Brasil em férias, mas fui descoberto, como outros actores o foram, dentro da necessidade que os brasileiros têm de estreitar a ligação entre o Brasil e Portugal.
Os agentes artísticos brasileiros, de vem em quando, fazem castings e sondam alguns artistas portugueses para trabalhar no Brasil, e eu fui um desses.
Vai entrar na novela "Floribela", em breve. Como se sente por ir ser protagonista duma novela com tanto sucesso em Portugal?
Eu vou entrar numa novela que já está a meio, o que se torna complicado. Mas a minha expectativa é que continue a ser um projecto de sucesso e que eu, nesta experiência, consiga evoluir enquanto actor. Espero que seja preponderante para que a novela tenha mais audiência.
Na novela "Pé na Jaca" faz o papel de um personagem francês. É também uma versatilidade que quer experimentar?
Não se pode ser actor sem a capacidade de ser versátil. Um actor rígido, um actor imutável, é um actor que, em pouco tempo, desaparecerá. Um actor assim criará um estereótipo de personagem que permanecerá com ele, para a vida toda. Pela minh parte, tento sempre seguir à risca aquilo que me propõem e, para isso, tenho de criar diferentes personagens, em diferentes momentos e de diferentes alturas.
Ricardo pereira é modelo, actor de cinema e de novelas, faz teatro. Neste momento, há algum projecto por realizar?
Falta sempre alguma coisa. Considero que estão errados todos aqueles que acham que têm tudo. Tenho 27 anos e uma vida à minha frente. Por isso, falta-me fazer muita coisa.
Para além do mercado espanhol, onde já anunciou querer trabalhar, até onde acredita poder chegar?
O mercado espanhol é o meu ponto de apoio para chegar ao mercado mundial. Enquanto modelo viajei por diversos países e enquanto actor também. Humildemente, tenho que me cinjir ao meu país.
O Ricardo foi para Itália muito cedo, com o projecto de ser modelo. Vai de encontro à sua personalidade arriscar?
Não existem impossíveis, existem possíveis dolorosos. Portanto, há que lutar para atingir determinados lugares na vida. E isto acontece, mesmo em Portugal, pois não é fácil chegar ao topo. Não me assusta qualquer novo desafio que possa aparecer. Tem é que ser ponderado e perceber se vale a pena o sacrifício, ou não vale.
Ganhou notoriedade com o seu trabalho. Sente-se um sex-simbol?
Sou muito simples e não penso em nada da minha constituição física. Não sou pessoa de me olhar muito ao espelho, não sou pessoa de me preocupar se estou ou não despenteado. Claro que tenho noção de que estou inserido numa sociedade, e sei aquilo que devo vestir em determinadas ocasiões. Mas sei que os papéis que tenho desempenhado podem levar a esse título de galã, de sex-simbol.
Ser um sex-simbol ou um galã tem a ver com um conjunto de características que eu não sei muito bem quais são. E também não sou eu que me vou catalogar.
Já teve situações caricatas? Já foi abordado na rua em situações desagradáveis?
Agradáveis e desagradáveis. De histeria ou de discussão e de não concordarem, porque há pessoas que vivem, intensamente, as personagens. Entram mesmo dentro da novela. Mas ainda bem, porque é sinal de que estão a gostar do papel do actor. Nós trabalhamos para que as pessoas sintam agrado nisso.
Já disse que gostava de acabar a sua licenciatura em Psicologia. É uma base importante para o seu futuro profissional?
Não. Para o meu íntimo, sim, é essencial. Não faz sentido não terminar porque estou no último ano. O curso está parado há três anos e tenho mesmo que terminar. Mas isso tem mais a ver com uma vitória pessoal. Nunca irei exercer a profissão de psicólogo, mas faço melhor, exerço no dia-à-dia.
Há muito de Psicologia numa carreira de actor?
A Psicologia tem um objecto de estudo que é o comportamento humano e, mais do que na carreira de actor, está a nossa carreira de vida lidar com ela. O ser humano é a coisa mais estranha e difícil mas também a mais fascinante. A psicologia serve realmente para tudo.
Estamos no Palace Hotel do Buçaco, onde está hospedado nestes dias de Carnaval. Que imagem leva da Mealhada?
É uma imagem muito positiva. O nosso país faz muitas festas, se calhar festas a mais. Nós devemos fazer festa se tivermos noção de que, quando não estamos em festa, temos de ser produtivos. A festa, seja de que ordem for, é sempre benéfica para o ser humano. Devemor rir, sorrir e brincar, ao longo da vida toda, mas devemos também ter noção de que, quando estamos a trabalhar, é preciso que sejamos responsáveis para produzir o dobro. Levo uma imagem muito positiva da Mealhada. O acolhimento das pessoas é extraordinário, expressam simpatia, mostram alegria. Gostaria de repetir a experiência de ser rei de um Carnaval.
É fã do samba?
Já dancei muito samba... mal, mal, tão mal! Dancei muito no Brasil, já brinquei um bocadinho aqui, em Portugal. Portanto, posso dizer que sou muito fã do samba, sem dúvida.
Mónica Sofia Lopes
(in Jornal da Mealhada, 21 de Fevereiro de 2007)
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home