SAÚDE
Lúpus. A doença das mil faces
É também a pedido de muitos leitores deste jornal que, finalmente, escrevo acerca de uma doença que atinge milhares de pessoas e com a qual vivo há já alguns meses.
O que é
Lúpus eritematoso sistémico (LES) é uma doença auto-imune, crónica, que pode afectar qualquer órgão do corpo. Os sintomas variam de pessoa para pessoa.
É uma doença auto-imune porque há uma desordem do sistema imunológico, ou seja, o corpo está sempre em guerra com ele próprio.
Esta desordem gera inflamação em vários órgãos e "nascem" os sintomas do lúpus. Se for muito grave, ou detectada muito tarde, a inflamação pode causar danos irreversíveis num órgão.
O sistema imunológico protege contra as bactérias e os vírus. Quando tudo está bem, este sistema produz anticorpos que "lutam" contra as substâncias estranhas ao organismo e que as destroem. Com o lúpus o sistema imunológico produz anticorpos que atacam os próprios tecidos do corpo.
As causas
Não são conhecidas as causas do aparecimento do LES mas os médicos "desconfiam" que factores ambientais, genéticos e imunológicos estão envolvidos.
Existem alguns factores que podem espoletar a doença, tais como infecções, antibióticos, raios ultravioletas, stress excessivo, algumas drogas e hormonas.
O LES é sobretudo uma doença do sexo feminino, com maior incidência na faixa etária dos 20 aos 64 anos, ou seja, durante o período fértil da mulher.
Os sintomas
Um paciente tem LES quando apresenta pelo menos quatro dos seguintes sintomas: erupção malar (erupção vermelha sobre a região malar); erupção discóide (placas de pele, elevadas, vermelhas); fotossensibilidade (sensibilidade após exposição solar); úlceras orais (úlceras na boca, garganta e/ou nariz, normalmente sem dor); artrite (edema e dor em duas ou mais articulações); serosite (inflamação das membranas de órgãos internos como pulmões, coração e abdómen); patologia renal (a maior parte dos doentes de LES acaba por ter algum grau de envolvimento renal); patologia neurológica (convulsões ou psicose); patologia hematológica (anemia hemolítica - destruição dos glóbulos vermelhos do líquido circulatório), ou leucopenia (diminuição anormal do número de glóbulos brancos no sangue); anticorpos antinucleares (anticorpos antinucleares são encontrados no sangue de quase todos os doentes com LES).
Característica idêntica em quase todos os doentes é uma mancha vermelha na face, em forma de borboleta.
O diagnóstico
Dadas as mil faces de LES, o diagnóstico é extremamente difícil. Quando aparecem os primeiros sintomas de LES, podem não estar reunidos os quatro necessários e torna-se assim mais dificil para um médico diagnosticar a doença.
O médico necessita de conhecer bem a doença e tentará perceber se o paciente sofre, ou não, de LES, porque, às vezes, a demora provoca danos irreversíveis nalguns órgãos.
Procedimento que pode ser muito útil na conclusão de um diagnóstico é uma biopsia da pele ou do rim.
Uma biopsia do rim pode dar informações relevantes sobre o tipo, a gravidade e a idade das lesões causadas pelo lúpus e é útil para a escolha do tratamento mais adequado.
A finalidade de qualquer tratamento é manter a doença controlada para que o doente possa fazer uma vida o mais normal quanto possível.
Tratamento
Anti-inflamatórios não esteróides, écrans solares, cálcio, vitamina D e corticóides. Estes últimos, porém, apresentam contra-indicações bastante significativas, tais como aumento de peso, hipertensão arterial, susceptibilidade a infecções, acne, osteoporose, cataratas, irritabilidade, insónia e psicose.
Pode também recorrer-se a agentes citotóxicos, azatioprima (menos tóxico) ou ciclofosfamida (mais eficaz e mais tóxico). Para o uso da ciclofosfamida, a contra-indicação mais preocupante é a insuficiência ovárica definitiva.
Viver com...
Nos últimos anos, os doentes de LES tiveram uma grande melhoria de vida mas a taxa de mortalidade é três vezes superior à da população em geral. As causas de morte estão muitas vezes associadas às contra-indicações da terapêutica, ou seja, a medicação que se usa para "controlar" a doença acaba por provocar danos a outros níveis. Um doente que tenha cuidados com a sua terapêutica e que olhe para o seu médico como o seu melhor amigo conseguirá viver melhor com as fases activas que a doença tem.
Agradeço a Carla Constantino, técnica de radiologia, que há 20 anos sofre deste mal. Muito me apoio na fase dificil que foi a descoberta de uma doença crónica e deu-me a conhecer bibliografia que me ajuda a compreender a doença e a adoptar cuidados que me permitam ter uma vida o mais saudável possível.
Mónica Sofia Lopes
(in Jornal da Mealhada, 15 de Novembro de 2006)
1 Comments:
Ola! Bom dia eu gostaria de saber se a pessoa com lupus alojado nos rins pode fazer drenagem devido ao corticoide ingerido e o inclaço obrigado Ester meu email esterab71@gmail.com
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